No fim da semana que passou participei num Seminário promovido pela Pró-Inclusão
– Associação Nacional de Docentes de Educação Especial e da Associação Pais em Rede
sobre o tema “Na Escola e depois da Escola” no que respeita a alunos NEE.
Deixo aqui umas notas de suporte à conversa que realizei.
Uma pequena referência inicial ao cenário pós-escolar – desemprego
estimado entre a população com deficiência 70/75% - risco de pobreza 25%
superior nas pessoas com deficiência – poucos alunos com deficiência no ensino
superior e nas escolas profissionais
Os dados sugerem que muitos alunos “transitam” para a vida activa mas
não ficam – passam mesmo por ela em trânsito.
. A função do percurso de educação/formação é justamente a construção
de um projecto de vida
(exemplo da tese de mestrado – 13 adultos com pc – 2 empregados, 3
desempregados e os outros nunca trabalharam – 3 com ensino superior – 9
institucionalizados)
Parece claro o enorme desafio e a questão começa antes, mesmo antes dos
15 anos – algumas inquietações e utopias
Quando falamos de inclusão falamos sem equívocos ou dúvidas de:
SER
ESTAR
PARTICIPAR
PERTENCER
APRENDER
E de dois princípios – AUTODETERMINAÇÃO – INDEPENDÊNCIA E AUTONOMIA
- Qual a situação neste entendimento? Muito a fazer.
- Que regulação do sistema – latitude de práticas – regularmente recebo
relatos, alguns verdadeiramente inquietantes
Uma outra inquietação – o currículo
- O currículo é uma ferramenta fundamental de promoção de inclusão - a
sua concepção e conteúdos devem ser adequados no sentido de acomodar a
diversidade dos alunos.
- O modelo curricular actual e a sua gestão cumprem esta função? Não,
não cumprem
Currículo Específico Individual – deve existir? Não, não faz sentido e
muito menos faz sentido a existência de “turmas de CEIs(?!) (Aliás, como afirmo
desde que surgiu, nem se entende o “conceito”,
um currículo “individual” não será “específico”?)
Que função cumpre uma matriz curricular que estabelece que na “Formação
académica” os objectivos devem ser definidos pela escola e ter como referência
os currículos nacionais e na área da “Capacitação” define como objectivos
“vestir-se” ou “alimentar-se” (para alunos de 15 anos?!).
Por outro lado e no mesmo plano estão definidos objectivos de natureza
e complexidade bem diferentes?
A questão da funcionalidade - a dimensão de funcionalidade não deve ser
uma característica de qualquer currículo? Alguns dos entendimentos de
funcionalidade podem traduzir-se em actividades pouco adequadas e muito menos
inclusivas.
A Unidades especializadas - Quem verdadeiramente as frequenta? Promovem
inclusão?
(dados de trabalhos que tenho desenvolvidos são pouco animadores) De
novo a questão da regulação.
Finalmente - Depois da escolaridade obrigatória os jovens, todos os
jovens, têm três vias.
- Formação profissional – escolas profissionais
- Percurso escolar – ensino superior
- Mercado de trabalho – Actividade comunitária
O trajecto pós-escolar dos jovens com NE tem que ser, imperativamente,
uma destas três vias
A resposta “institucionalização” não pode ser vista como uma outra via e prevalecente – é uma resposta a um número muito pequeno que deve ser
regulada e apoiada de acordo, também com critérios de inclusão.
As instituições poderão, deverão, assumir uma responsabilidade clara e
monitorizada no apoio ao acesso e percurso dos jovens com NE nas três vias
comuns? Como avançar neste sentido? Quem tutela?
Como disse de início, esta foi uma das circunstâncias em que senti
maior dificuldade senti em preparar algo de estruturado e que pudesse,
imodestamente, ser um contributo positivo para um caminho que tantas vezes me,
nos, desencanta, mas que do qual não conseguimos sair.
Temos, creio, isso sim, de fazer diferente.
O empenho, a competência e as boas práticas que existem para terem
efeitos multiplicadores, alargados e persistentes podem não ser suficientes.
O copo estará meio cheio … mas não podemos esquecer a parte que está meio
vazia.
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