No âmbito da ultimação do OGE
para 2017 o PAN propõe que se possa deduzir até 1000 euros as despesas com a
contratação de pessoas para acompanhamento de pessoas com deficiência.
Apesar de muitas vezes ver
referidas questões que a corrida de obstáculos em que se transforma a vida das
pessoas com deficiência e das suas famílias, é menos abordado o que poderemos
chamar os custos da deficiência. São de natureza variada e muito elevados pelo
que a iniciativa do PAN se justifica.
Algumas notas começando por referir
um relatório, "Monitorização dos Direitos Humanos das Pessoas com
Deficiência em Portugal", divulgado em 2014 no âmbito da terceira
conferência anual da Associação Europeia de Estudos da Deficiência, indiciando
a existência de empresas que usam indevidamente os apoios estatais para a
contratação de pessoas com deficiência obrigando estes trabalhadores a estágios
sucessivos e a uma situação de precariedade. Este expediente é, aliás usado com
outros grupos, jovens, por exemplo.
Nada de novo. Num mercado
fortemente desregulado e em "flexibilização" acelerada, os direitos
das pessoas ou a lei são irrelevâncias formais.
Em contextos de maiores
dificuldades e dados os níveis fortíssimos de desemprego os grupos mais
vulneráveis são duplamente penalizados, pela sua condição e situação de vida e
por mercados e empregadores sem alma, desregulados que apenas conhecem
"activos" descartáveis e a explorar e não pessoas.
No caso particular das pessoas
com deficiência é também de recordar que O “Estudo de avaliação do impacto dos
planos de austeridade dos Governos europeus sobre os direitos das pessoas com
deficiência”, coordenado pelo Consórcio Europeu de Fundações para os Direitos
Humanos e a Deficiência conhecido no final de 2013, traçou um retrato
devastador do impacto que as políticas de austeridade e a crise económica tiveram
e têm nas condições de vida das pessoas com deficiência e, naturalmente, das
suas famílias. Este impacto, muito diferenciado de acordo com as idades e
problemáticas envolvidas, compromete seriamente os direitos básicos em matéria
de educação, saúde, trabalho e apoios sociais. Em todas as áreas os cortes
orçamentais têm efeitos pesadíssimos, sendo que as pessoas com deficiência em
Portugal têm uma taxa de risco de pobreza 25% superior à das pessoas sem
qualquer deficiência.
Como sempre não posso deixar de
retomar algumas notas sobre esta matéria que não são informadas por qualquer
discurso de natureza paternalista ou assistencialista, mas colocadas num plano
de direitos humanos, de discriminação positiva de pessoas em situação
particularmente vulnerável e na não-aceitação do princípio de que equidade
significa igualdade.
Talvez alguns dos decisores
políticos não saibam, por exemplo, que o desemprego no grupo social das pessoas
com deficiência terá aumentado cerca de 70 % face a 2011, e estima-se que ronde
os 75 %, uma taxa catastrófica.
Sabemos que os recursos são
finitos e os tempos de contenção, mas pode-se afirmar que para as pessoas com
deficiência os tempos sempre foram de recursos finitos e de contenção, ou seja,
as dificuldades são recorrentes e persistentes.
Um estudo realizado, creio que em
2010, pelo Centro de Estudos Sociais da Faculdade de Economia da Universidade
de Coimbra, apontava para que uma pessoa com deficiência tenha um gasto anual
entre 6 000 e 27 000 € decorrentes especificamente da sua condição e considerando
diferentes quadros de deficiência. Este cálculo ficou incompleto porque os
investigadores não conseguiram elementos sobre os gastos no âmbito do
Ministério da Saúde.
O estudo, para além das
dificuldades mais objectiváveis, referenciou ainda os enormes custos sociais,
não quantificáveis facilmente, envolvidos na vida destes cidadãos e que têm
impacto no contexto familiar, profissional, relacional, lazer, etc.
Creio também que é justamente no
tempo em que as dificuldades mais ameaçam a generalidades das pessoas que se
avoluma a vulnerabilidade das minorias e, portanto, se acentua a necessidade de
apoio e de políticas sociais mais sólidas, mais eficazes e, naturalmente, mais
reguladas.
Os números sobre o desemprego nas
pessoas com deficiência são dramaticamente elucidativos desta maior
vulnerabilidade. A vida de muitas pessoas com deficiência é uma constante e
infindável prova de obstáculos, muitas vezes intransponíveis, em variadíssimas
áreas como mobilidade e acessibilidade, educação, emprego, saúde e apoio social,
em que a vulnerabilidade e o risco de exclusão são enormes. Assim sendo,
exige-se a quem decide uma ponderação criteriosa de prioridades que proteja os
cidadãos dos riscos de exclusão, em particular os que se encontram em situações
mais vulneráveis.
As pessoas com deficiência e as
suas famílias fazem parte deste grupo.
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