Uma boa notícia, um bem de primeira
necessidade.
O Conselho Regional de Lisboa da
Ordem dos Advogados tomou a iniciativa de distribuir pelos tribunais de Família
e Menores exemplares de livro destinado a ajudar magistrados, procuradores e
advogados a realizar de forma adequada audições a crianças no âmbito de processos de regulação
parental.
Esta iniciativa vai no mesmo
sentido de duas outras que aqui referi em 2013.
Uma primeira referência para a
criação por parte de um grupo de advogados especialistas em direito de família de
uma Associação, "Voz da Criança" que "pretende dar voz às
crianças nos tribunais e ser uma voz activa junto do poder legislativo".
Esta Associação tem como
objectivos latos proteger os direitos das crianças e a forma como, do ponto de
vista do direito, são consideradas, bem como analisar e promover ajustamentos
nos procedimentos adoptados pelos diversos actores neste universo tendo sempre
como grande preocupação o "supremo interesse da criança".
Também na mesma altura foi
divulgado que a PSP, em pareceria com a APAV, criou nas instalações da Divisão
de Investigação Criminal de Alcântara, em Lisboa, um “espaço criança”,
destinado exclusivamente às crianças que se deslocam a esta Divisão que tem
competência em matéria de investigação de abusos e maus tratos a crianças, por
exemplo, no quadro de violência doméstica.
Na verdade, esta atenção à
criança e às circunstâncias em que muitas crianças são ouvidas e recebidas devido
a questões processuais e de investigação quase que configuram uma nova situação
de vitimização ou são percebidas como ameaçadoras e intimidantes. Recordo, por exemplo, sucessivas audições de crianças vítimas
de abuso sexual, situação que creio atenuada, mas não resolvida, com os
depoimentos para memória futura ou ainda o contacto com os agressores. Quase
parece dispensável a necessidade de referir como é violento e capaz de deixar
marcas profundíssimas solicitar a uma criança que repetidas vezes relate,
relembre e "viva" a situação dramática porque passou, o que
significa, certamente, um novo abuso.
Acresce às questões processuais
que podem ser, na verdade, outra experiência de violência, a importância do
contexto de acolhimento, espaço onde ocorre e a preparação de quem recebe as
crianças, nos diferentes serviços.
Também nos casos de regulação
parental deve ser protegido o bem-estar da crianças e as audições e inquirições
devem decorrer de forma protegida e adequada.
Nesta perspectiva, a distribuição
do livro com duas histórias, "O dia em que a Mariana não queria" e
"O João vai a tribunal", a criação da Associação de juristas, "A
voz da criança" ou a iniciativa da
PSP e da APAV, merecem uma referência positiva pois vão no sentido de acautelar
“o supremo interesse da criança”, fórmula repetida mas nem sempre colocada em
prática.
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