Ao que se lê no Público
realiza-se no próximo dia 4 em Leiria um encontro em que o ME pretende ouvir os alunos do
ensino básico e secundário sobre temáticas como “O que aprendemos? Como
aprendemos melhor? O que distingue os professores que constituem referências
para nós? O que retemos do que aprendemos? Como utilizamos o que aprendemos? O
que (não) mudaríamos na escola?”.
Não tenho uma ideia idealizada ou
romântica do “diálogo” e do “ouvir os alunos” mas creio que importará, de
facto, ouvir os alunos com real interesse no seu olhar e ideias sobre a sua
vida escolar.
Acho, portanto, uma iniciativa
positiva.
Como aqui referi, participei há
dias numa iniciativa local sobre “sucesso educativo” e os depoimentos de alunos
sobre a questão foram contributos importantes para a discussão que se gerou.
A propósito das questões que
serão debatidas recordo que há algum tempo em conversas com alunos do 2º e 3º
ciclos também se discutia o que era essa coisa de ser um bom professor.
A maioria dos alunos envolvia-se
activamente e a continuidade das referências levou à identificação de uma
resposta que se poderia sintetizar na ideia de que "bom professor é o que
fala com a gente e explica bem".
Este entendimento lembrou-me,
cito-o aqui frequentemente, o Mestre João dos Santos quando afirmava que alguém
tinha sido seu professor "porque foi seu amigo".
De facto, o sucesso dos processos
de ensinar e aprender assenta em dois eixos fundamentais, a qualidade do
ensinar e a relação entre quem ensina e quem aprende. Do meu ponto de vista, a
grande maioria dos professores estará equipada sobre o ensinar. A grande
questão é que a nossa escola, de uma forma geral, não facilita a relação. Esta
dificuldade decorre, fundamentalmente, da organização dos tempos lectivos, da
natureza e extensão dos conteúdos curriculares das diferentes e muitas
disciplinas, da crescente pressão para resultados tangíveis, o número crescente
de alunos por turmas e do número de turmas leccionado por muitos professores,
de um ensino demasiado assente no manual, etc. para além, naturalmente, das
concepções de alguns professores.
Os professores, muitos
professores, sentem-se "escravos" do programa que tem de ser dado e
do pouco tempo disponível para construção da relação que na verdade se torna
muito difícil.
Muitas vezes digo que os
professores "falam" para o programa, para o explicar, e os alunos
"falam" para o programa para o aprender. Não falam entre si sendo
que, além disso, existe um grupo significativo de alunos que, por diversas
razões como dificuldades ou desmotivação ou associadas a variáveis de contexto, não conseguem "falar" com o
programa. Para estes, os professores vêem-se obrigados a falar, sobretudo para
controlar os seus (maus) comportamentos.
Também por estas razões, continuo
a entender como necessária uma mudança mais significativa na organização dos
tempos da escola e dos conteúdos curriculares que tornassem mais fácil podermos
ouvir os alunos dizer, "a gente tem bons professores porque explicam bem e
falam com a gente".
Esta ideia não tem nada de
romântico nem de utópico, assenta em algo de muito simples, a educação
constrói-se com a relação que se alimenta com a comunicação.
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