No Público faz-se referência a um
trabalho interessante desenvolvido pela equipa da Professora Dulce Gonçalves
destinado a crianças que experimentam algumas dificuldades na aprendizagem da
leitura, o projecto Investigação de Dificuldades para a Evolução na
Aprendizagem (IDEA). Através do envolvimento no que chama ginásios onde se
treina o “músculo” da leitura muitas crianças conseguem reconstruir a sua
relação com a aprendizagem da leitura, ganham confiança nas suas capacidades e
competências, motivam-se e melhoram os resultados.
É importante sublinhar que a
existência de algumas dificuldades neste trajecto não significa, felizmente, a
existência de dislexia ou de outras “perturbações”. Tal como acontece com a
questão do défice de atenção e/ou da hiperactividade, é com excessiva ligeireza que se
atribuem “rótulos” que podem ter efeitos severos e prolongados.
No âmbito da aprendizagem da
leitura e da escrita e de algumas dificuldades experimentadas pelos alunos
nesse processo radica em muitas situações no facto de, independentemente de
questões relacionadas com as metodologias que foram sendo utilizadas pelos
professores, das suas opções e competências na didáctica da Língua portuguesa,
a grande questão e que parece simples de enunciar será, muitos os alunos, de
uma forma geral, lêem e escrevem pouco.
Podemos aduzir uma série de
razões para que isto aconteça, questões que decorrem da concorrência da
actividade de leitura e escrita com outras actividades ou meios percebidas aos
olhos dos alunos como mais apelativas, poucos hábitos de leitura no ambiente
familiar, alguns equívocos nas concepções sobre práticas pedagógicas que
levaram a que durante algum tempo, sobretudo nos primeiros anos de escolaridade,
se descurasse, mesmo quando tal era possível, a actividade de leitura
individual e à escrita na sala de aula por parecer “conservador” ou “pouco
activo”, etc.
Por outro lado, actualmente,
estamos num tempo em que desde o 1º ciclo, a pressão sobre a escola, a natureza
e extensão dos conteúdos curriculares e a visão que os informa, o
estabelecimento de metas curriculares de forma excessiva e burocratizada, além
de outra variáveis como o tempo passado na escola, criam algumas dificuldades a
professores e alunos no sentido de se estruturarem espaços e tempo de leitura e
escrita que não sejam no cumprimento estrito das metas e dos manuais ou,
naturalmente, fora das actividades lectivas.
Com o pouco tempo disponível e
com a concorrência fortíssima de outras actividades a tarefa não é fácil.
Muitos professores,
designadamente no 1º ciclo e os de Português nos anos seguintes, referem
justamente que seria desejável que os alunos tivessem mais tempo para ler e
escrever em contextos e actividades "livres" dos manuais ou das obras
prescritas pelo programa. Os mais novos, e não só, lêem e escrevem pouco e
esses hábitos são persistentes. Apesar de alguns ganhos observados no âmbito do
Plano Nacional de Leitura.
Mas mais do que as razões, e
todas contribuirão para a situação que temos, é importante, diria
imprescindível, que nos convencêssemos todos, professores, pais e outros
actores, que só se aprende a ler, lendo, só se aprende a escrever, escrevendo,
só se aprende a andar, andando, só se aprende a falar, falando, etc., etc.
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