Sobre os rankings escolares já se
escreveu imenso. Sobre o seu impacto maior ou menor, sobre a sua construção,
sobre própria existência, sobre os seus resultados. Eu próprio já o fiz a convite do Público.
Mas muito mais ainda há, não
tanto para escrever, mas, sobretudo, para pensar em termos de política
educativa que ao longo de décadas alimenta a situação que os rankings retratam,
no que de mais positivo como no que de mais negativo existe. Era este o caminho
que mais desejava ver percorrido.
Embora entenda que a informação
relativa aos resultados dos alunos possa e deva ser tratada e divulgada, a
minha questão é “Qual tem sido o contributo significativo da organização e
divulgação destes “rankings” para a melhoria da qualidade do sistema?”.
A informação agora divulgada pelo ME sobre a integração de outra informação para além da avaliação externa,
avaliação interna e dados sociodemográficos, como a relativa ao progresso dos alunos
e a análise de dimensões comparáveis podem introduzir uma outra forma de
olhar para os rankings que inevitavelmente se construirão a cada época de
exames. No entanto, estou convencido que o "filtro" da entrada de alunos nas instituições privadas com melhor resultado nos rankings tradicionais continuará a ser suficientemente robusto para as manter nos lugares cimeiros. A tradição vai continuar ser o que tem sido.
A este propósito parece-me
interessante a visão de Gert Biesta da Universidade Stirling numa obra notável,
"Good Education in a Age of Measurement - Ethics, Politics,
Democracy", uma obsessão centrada na medida, assenta na gestão continuada
de uma dúvida, "medimos o que valorizamos ou valorizamos o que
medimos?". Em entrevista ao Público em 2011, o Professor Biesta afirmava
sugestivamente, “Os rankings são muito antiquados e não devem ter lugar numa
sociedade civilizada".
No entanto, não tendo uma atitude
fundamentalista, admito que se elaborem rankings com o maior cuidado possível mas
que sobretudo se promova a análise em cada escola do seu próprio trabalho.
Sendo um defensor intransigente de uma cultura e prática de exigência,
avaliação e qualidade, parece-me bem mais importante o aprofundamento dos
mecanismos de autonomia e responsabilização e a constituição obrigatória em
todos os agrupamentos ou escolas de Observatórios de Qualidade (muitas têm) que
integrem também elementos exteriores à escola. Existe capacidade técnica e
recursos suficientes. O trabalho realizado por esses Observatórios, este sim,
deveria ser divulgado e discutido em cada comunidade e passível de leituras
cruzadas com dados nacionais.
Em síntese, a questão central,
mais do que ordenar escolas a partir dos resultados dos alunos e
independentemente das variáveis consideradas e das metodologias adoptadas, é reflectir
seriamente sobre o que fazer, como fazer e com que recursos para a melhorar os processos de ensino e
aprendizagem e que essa melhoria também se reflicta nos exames e em todas as outras formas de avaliação.
Neste sentido, parecem-me preocupantes alguns dos caminhos que foram trilhados nos últimos
anos.
Uma nota final, esperemos que as
melhorias evidentes que de uma forma geral se têm verificam na construção dos
rankings e do que agora foi anunciado ajudem a evitar que na próxima época se mantenha a
forma como alguma comunicação social trata os rankings com referências
constantes "às melhores escolas" e às "piores escolas" induzindo uma leitura enviesada da realidade.
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