domingo, 27 de novembro de 2016

DELINQUÊNCIA E INDISCIPLINA ESCOLAR

Dados do MAI ontem conhecidos mostram o aumento do registo de ocorrências criminais em contexto escolar no ano lectivo 2015/2016. Este aumento vem na linha do verificado em anos anteriores.
Trata-se de um universo complexo e, como tudo em educação, sem situações milagrosas.
Como é sabido e reconhecido a instituição escola é de alguma forma um espelho das comunidades em cada momento da história pelo em comunidades com índices de criminalidade significativos, com níveis de desesperança e dificuldades, com alterações nos quadros de valores, não será estranho que tal clima se reflicta no contexto escolar.
No entanto, a escola não pode ser responsabilizada e considerada competente por e para todo o universo de problemas nos comportamentos dos mais novos. Para situações de pré-delinquência ou perturbações do comportamento, por exemplo, pode, evidentemente, dar contributos mas não assumir a responsabilidade pelo que importa clarificar a análise.
Neste sentido, importa definir dimensões diferentes ainda que associadas, a delinquência verificada em contexto escolar ou nas proximidades e a indisciplina escolar que, aliás também parece em crescimento
Neste quadro tal como nos resultados escolares, também se deseja que a escola possa fazer a diferença em matéria de comportamentos.
Para que tal possa acontecer é necessário mais do que o desejo, a retórica e a boa vontade e empenho de direcções, professores, técnicos, funcionários, alunos e pais.
Algumas notas avulsas e sem hierarquia de importância.
Apesar de sabermos que o trabalho desenvolvido no âmbito da Formação Cívica seria pouco interessante em algumas escolas o seu desaparecimento dos conteúdos curriculares obrigatórios não poderia ter acontecido.
Muitas escolas procuram desenvolver projectos e iniciativas neste âmbito mas faltam recursos docentes e técnicos.
Nos espaços curriculares existentes dificilmente cabem abordagens mais diferenciadas face à pressão decorrente de programas demasiado extensos e prescritivos. A esta situação acresce o número de alunos por turma que se verifica em muitos territórios educativos apesar das habilidades na referência a rácios que não espelham a realidade. Não é certamente por acaso que na generalidade das instituições de ensino privado que conheço continuam a existir espaços curriculares e actividades dedicadas à formação pessoal dos alunos a existir mas o desinvestimento na escola pública tem, evidentemente, consequências.
Faltam professores que possam desenvolver projectos com impacto nos comportamentos dos alunos, faltam técnicos, psicólogos por exemplo que podem ser um contributo para minimizar risco de comportamentos desajustados e mediar o trabalho com famílias.
Faltam funcionários, assistentes operacionais, que com alguma formação permitam melhor acompanhamento de recreios e outros espaços escolares minimizando o risco de comportamentos desajustados.
Falta uma menor carga burocrática em cima do trabalho de docentes e um clima de maior serenidade nas escolas, uma variável reconhecidamente com impacto nos comportamentos de todos os que nela vivem.
Procurar responder desde cedo aos riscos de comportamento socialmente inadequado o que é um investimento com retorno garantido.

No entanto, como sempre, é uma questão de opção política.

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