Segundo o INE existem 301,7 mil
jovens (dos 15 aos 34 anos) com a deplorável condição de “nem-nem”, nem estudam
(ou estão em formação), nem trabalham. O número aumentou nos jovens com menos
qualificação e baixou nos mais qualificados face a 2015.
São indicadores devastadores,
significam 13,3% dos 2,2 milhões de jovens dos 15 aos 34 anos.
Acresce que mesmo no mercado de
trabalho é recorrente a utilização abusiva e escandalosa de estágios
profissionais não remunerados, sobretudo de jovens qualificados, situação que
permite aos empregadores aceder a mão-de-obra gratuita por alguns períodos de
tempo, expediente que podendo ter impacto nas estatísticas não muda a vida das
pessoas, antes pelo contrário, é um atentado à sua dignidade e direitos.
Por outro lado, a precariedade
nas relações laborais quase duplicou na última década. Portugal é o segundo
país da Europa, a seguir à Polónia, com maior nível de contratos a prazo.
Neste cenário, os desequilíbrios
fortíssimos entre oferta e procura em diferentes sectores, a natureza da
legislação laboral favorável à precariedade e insensibilidade social e ética de
quem decide, promovem a proletarização do mercado de trabalho mesmo em áreas
especializadas ou mesmo o recurso a uma forma de exploração selvagem com uma
maquilhagem de "estágio" sem qualquer remuneração a não ser a
esperança de vir a merecer um emprego pelo qual se luta abdicando até da
dignidade.
Acontece ainda que alguns dos
vencimentos que se conhecem, atingindo também camadas altamente qualificadas,
não são um vencimento, são um subsídio de sobrevivência.
É justamente a luta pela
sobrevivência que deixa muita gente, sobretudo jovens sem subsídio de
desemprego e à entrada no mundo do trabalho, sem margem negocial, altamente
fragilizadas e vulneráveis, que entre o nada e a migalha "escolhem
amigavelmente" a "migalha", ou mesmo uma remota hipótese de um
emprego no fim de período de um indigno trabalho gratuito. Como é evidente esta
dramática situação vai de mansinho alargando e numa espécie de tsunami vai
esmagando novos grupos sociais e famílias.
É um desastre. Grave e dramático
é que as pessoas são "obrigadas" a aceitar. Os mercados sabem disso,
as pessoas são activos descartáveis.
E assim se cumpre a narrativa das
vidas adiadas
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