quinta-feira, 24 de novembro de 2016

MAIS TRABALHO OU MELHOR TRABALHO?

O Público aborda hoje uma matéria que me parece actual e bastante relevante. Contrariamente ao que se verifica noutros países europeus, em Portugal estamos a assistir ao aumento da carga horária média no mundo laboral. É citado um estudo realizado pela AESE-Business School segundo o qual 53% dos inquiridos trabalha mais do que a carga horária semanal média.
O padrão utilizado é definição da OCDE que estabelece 48 horas como limite máximo sendo que a maioria dos portugueses inquiridos refere 54.
Esta situação tem repercussões negativas ao nível da saúde e das relações familiares.
Parece claro que a tão afirmado problema da produtividade é, fundamentalmente uma questão de melhor trabalho e não de mais trabalho. Aliás, conhecem-se estudos neste sentido e podemos reparar o que se passa noutros países com cargas de horários laborais semelhantes à nossa.
Por outro lado, existem factores menos considerados e que do meu ponto de vista desempenham um papel fundamental, a organização do trabalho, a qualidade dos modelos de organização e funcionamento, no fundo, a qualidade das lideranças nos contextos profissionais. O nível de desperdício no esforço, nos meios e nos processos em alguns contextos laborais é extraordinariamente elevado. Mais tempo nas organizações é o modo mais fácil mas menos eficiente de responder às necessidades de produtividade.
A este propósito um diálogo improvável

Bom dia, venho apresentar uma queixa.
Com certeza, contra quem?
Contra muita gente.
Será, portanto, contra incertos. E apresenta queixa porquê?
Por roubo, roubaram-me tempo.
Muito bem, então roubaram-lhe tempo. Por favor, pode explicar um pouco melhor para eu poder registar a situação.
Eu já não tinha muito tempo porque nunca fui uma pessoa muito rica de tempo, mas o pouco que tinha roubaram-me. Fiquei sem tempo para estar com os meus filhos e brincar com eles. Este tempo faz-me muita falta, os miúdos andam tristes porque desde que me roubaram o tempo não consigo mesmo. Já não tenho tempo para descansar ou ler qualquer coisa como gostava de fazer. Não tenho tempo descansado para a minha mulher que também precisava do tempo que eu tinha e que partilhava com ela. No meu trabalho não tenho tempo para parar um minuto sem que alguém venha logo chamar a atenção. Fiquei sem o tempo que tinha para beber um copo com os meus amigos e trocar umas lérias que serviam para aliviar das coisas da vida.
Eu percebo o seu problema, mas como deve calcular não tenho tempo para queixas como as que apresenta.
Não tem tempo? Não me diga que também lhe roubaram o tempo. Até às autoridades, é demais.

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