O Público aborda hoje uma matéria
que me parece actual e bastante relevante. Contrariamente ao que se verifica
noutros países europeus, em Portugal estamos a assistir ao aumento da carga
horária média no mundo laboral. É citado um estudo realizado pela AESE-Business
School segundo o qual 53% dos inquiridos trabalha mais do que a carga horária semanal média.
O padrão utilizado é definição da
OCDE que estabelece 48 horas como limite máximo sendo que a maioria dos portugueses inquiridos refere 54.
Esta situação tem repercussões
negativas ao nível da saúde e das relações familiares.
Parece claro que a tão afirmado
problema da produtividade é, fundamentalmente uma questão de melhor trabalho e
não de mais trabalho. Aliás, conhecem-se estudos neste sentido e podemos
reparar o que se passa noutros países com cargas de horários laborais
semelhantes à nossa.
Por outro lado, existem factores
menos considerados e que do meu ponto de vista desempenham um papel
fundamental, a organização do trabalho, a qualidade dos modelos de organização
e funcionamento, no fundo, a qualidade das lideranças nos contextos
profissionais. O nível de desperdício no esforço, nos meios e nos processos em
alguns contextos laborais é extraordinariamente elevado. Mais tempo nas
organizações é o modo mais fácil mas menos eficiente de responder às
necessidades de produtividade.
A este propósito um diálogo
improvável
Bom dia, venho apresentar uma queixa.
Com certeza, contra quem?
Contra muita gente.
Será, portanto, contra incertos. E apresenta queixa porquê?
Por roubo, roubaram-me tempo.
Muito bem, então roubaram-lhe tempo. Por favor, pode explicar um pouco melhor
para eu poder registar a situação.
Eu já não tinha muito tempo porque nunca fui uma pessoa muito rica de
tempo, mas o pouco que tinha roubaram-me. Fiquei sem tempo para estar com os
meus filhos e brincar com eles. Este tempo faz-me muita falta, os miúdos andam
tristes porque desde que me roubaram o tempo não consigo mesmo. Já não tenho
tempo para descansar ou ler qualquer coisa como gostava de fazer. Não tenho
tempo descansado para a minha mulher que também precisava do tempo que eu tinha
e que partilhava com ela. No meu trabalho não tenho tempo para parar um minuto
sem que alguém venha logo chamar a atenção. Fiquei sem o tempo que tinha para
beber um copo com os meus amigos e trocar umas lérias que serviam para aliviar
das coisas da vida.
Eu percebo o seu problema, mas como deve calcular não tenho tempo para
queixas como as que apresenta.
Não tem tempo? Não me diga que também lhe roubaram o tempo. Até às
autoridades, é demais.
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