sábado, 12 de novembro de 2016

DO TRABALHO DE FLEXIBILIZAÇÃO CURRICULAR

Com alguma estranheza leio no Público que o ME está a deixar de fora algumas sociedades científicas, são referidas entidades das áreas da Matemática, de Química, de Física e de Filosofia, do processo de reflexão, flexibilização, ajustamento, ou qualquer outra coisa que queiram produzir sobre os currículos escolares.
A justificação do ME é, “O trabalho em curso não tem como meta a revisão do currículo, mas sim um trabalho aprofundado sobre a sua exequibilidade e flexibilização para potenciar melhores aprendizagens, aprofundamento de temas, trabalho experimental e projectos interdisciplinares”.
Confesso a minha dificuldade de entender tal argumento.
Do meu ponto de vista, uma reflexão sobre as matérias curriculares, qualquer que seja o seu alcance e objectivos, envolve questões de natureza didáctica e pedagógica, evidentemente, o que envolve claramente os professores e as suas associações, mas também questões de natureza científica, os conteúdos curriculares, que convocam as sociedades científicas que, aliás, participam regularmente em processos que envolvam matérias relativas aos currículos.
É também claro que em termos políticos existe legitimidade para se ouvir quem se entende e também sei, a história recente mostra-o, que os próprios pareceres de natureza técnica ou científica também são, com demasiada frequência, inquinados por posicionamentos políticos decorrentes da agenda  da partidocracia. São recorrentes as divergências entre associações profissionais e sociedades científicas não só sobre currículos mas, por exemplo, sobre a avaliação externa e os seus graus de dificuldade ou ajustamento. Vale a pena, aliás,  referir que as sociedades científicas afirmaram em carta ao ME, “Alertamos desde já para o perigo que representa conduzir uma reestruturação de conteúdos curriculares, mesmo de natureza restrita como esta, sem o apoio firme em bases científicas muito sólidas, que as associações de professores não estão vocacionadas para fornecer". Um excelente exemplo de arrogância e umbiguismo.
No entanto, continuo convencido que o melhor processo de tomada a decisão é decidir, dentro da responsabilidade que está cometida ao decisor, mas ouvindo o que os diferentes actores envolvidos, todos os actores, terão a dizer sobre a matéria.
Este processo de decisão, participado e transparente, ganha, é minha convicção, mais legitimidade política e solidez democrática.

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