Com alguma estranheza leio no Público
que o ME está a deixar de fora algumas sociedades científicas, são referidas
entidades das áreas da Matemática, de Química, de Física e de Filosofia, do
processo de reflexão, flexibilização, ajustamento, ou qualquer outra coisa que
queiram produzir sobre os currículos escolares.
A justificação do ME é, “O trabalho em curso não
tem como meta a revisão do currículo, mas sim um trabalho aprofundado sobre a
sua exequibilidade e flexibilização para potenciar melhores aprendizagens,
aprofundamento de temas, trabalho experimental e projectos interdisciplinares”.
Confesso a minha dificuldade de
entender tal argumento.
Do meu ponto de vista, uma reflexão
sobre as matérias curriculares, qualquer que seja o seu alcance e objectivos,
envolve questões de natureza didáctica e pedagógica, evidentemente, o que
envolve claramente os professores e as suas associações, mas também questões de natureza científica,
os conteúdos curriculares, que convocam as sociedades científicas que, aliás,
participam regularmente em processos que envolvam matérias relativas aos currículos.
É também claro que em termos
políticos existe legitimidade para se ouvir quem se entende e também sei, a
história recente mostra-o, que os próprios pareceres de natureza técnica ou
científica também são, com demasiada frequência, inquinados por posicionamentos
políticos decorrentes da agenda da partidocracia. São recorrentes as divergências entre associações profissionais e sociedades científicas não só sobre currículos mas, por exemplo, sobre a avaliação externa e os seus graus de dificuldade ou ajustamento. Vale a pena, aliás, referir que as sociedades científicas afirmaram em carta ao ME, “Alertamos desde já para o perigo que representa conduzir
uma reestruturação de conteúdos curriculares, mesmo de natureza restrita como
esta, sem o apoio firme em bases científicas muito sólidas, que as associações
de professores não estão vocacionadas para fornecer". Um excelente exemplo de arrogância e umbiguismo.
No entanto, continuo convencido
que o melhor processo de tomada a decisão é decidir, dentro da responsabilidade
que está cometida ao decisor, mas ouvindo o que os diferentes actores
envolvidos, todos os actores, terão a dizer sobre a matéria.
Este processo de decisão,
participado e transparente, ganha, é minha convicção, mais legitimidade
política e solidez democrática.
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