segunda-feira, 11 de maio de 2015

A PRESSA DE APRENDER

No Observador encontra-se um trabalho interessante e pertinente sobre o universo das crianças. Reflecte-se sobre os conhecimentos e competências que muitas crianças revelam precocemente e se esta situação é positiva e, portanto, de incentivar ou se, pelo contrário, deve ser encarada com alguma prudência  e atenção. Parece-me de sublinhar pela sua habitual qualidade e bom senso a colaboração dos Professores Gomes Pedro e Mário Cordeiro.
Uma pequena história a propósito desta matéria, as crianças que aprendem cedo.
Um dia destes, estava um grupo pequeno de volta de um café na sala de professores a aproveitar uns, poucos, minutos de paragem, quando alguém se referiu ao cansaço que nesta altura se começa a sentir nos miúdos, tornando-os dificilmente mobilizáveis para o trabalho.
No grupo estava o Professor Velho, o que está na biblioteca e fala com os livros. No seu jeito de sempre, tranquilo e sem levantar muito a voz disse “é da pressa”. Os colegas estranharam e o Velho acrescentou: “Acho mesmo que é da pressa, muitas famílias logo que os miúdos nascem, mas sobretudo quando entram na escola, começam a entender os próximos anos como sendo fundamentalmente a preparação para ser adultos. Então, muitas vezes sem se dar conta pressionam os miúdos para crescer rapidamente e bem preparados para enfrentar a idade adulta.
Dão-lhes escola até os intoxicar, é preciso aprender muito e depressa. Enviam-nos para actividades sem fim que lhes desenvolvem imensas capacidades e competências que são fundamentais, dizem, para que se transformem em adultos realizados, ou como mais frequentemente afirmam, em pessoas com sucesso. Estimula-nos ao máximo para que aprendam o mais que puderem.
Estes pais não toleram a falha, exigem a excelência, detestam a brincadeira que entendem como uma perda de tempo.
Esquecem-se ou nunca perceberam que a infância é um tempo que vale por si só, irrepetível e imprescindível. Miúdos a quem roubam a infância, um dia vão querê-la de volta e nessa altura vão fazer asneiras que já podem ser complicadas, o tempo e a idade já serão outros. É certo que a infância também é um tempo em que se enche a mochila que nos vai acompanhar em adultos, mas é preciso não esquecer, é fundamental que a infância seja vivida enquanto infância, sem pressa.
Depressa e bem não há quem diz o povo."
Entretanto acabou o intervalo, sem tempo para mais conversas, é sempre à pressa.

3 comentários:

Anónimo disse...

De acordo, em absoluto.

Gostaria também de referir outros alunos- aqueles cujos pais não se interessam especialmente, por motivos vários. Vejo esses miúdos e miúdas, rapazes e raparigas nos Gabinetes de apoio disciplinar. Quase todas as semanas estão lá caídos. Tirando alguns casos graves que transcedem entendimento e conhecimento, muitos são alunos aos quais lhes falta....tempo para a brincadeira, mas, especialmente, tempo para serem ouvidos. E quando falam e são ouvidos e escutados, a gente aprende e sente que os quer "agarrar" e os poderia "agarrar".

Continuo na minha saga contra a aberração de aulas de 90 minutos, umas após as outras, com intervalos de 10 minutos entre elas. Continuo com a minha incompreensão para com as aulas de substituição, enquanto o sol brilha lá fora e os miúdos quase que choram a pedir para irem jogar futebol ou simplesmente jogar 1 jogo qualquer. Mas, não! Regulamento interno não permite e é preciso que paire um silêncio nos pátios e campos de jogos. As escolas foram melhoradas, mas o espaço para a descontração ficou o mesmo, com a agravante de muitas escolas acolherem mais alunos por se terem transformado em mega agrupamentos, verdadeiros viveiros de comportamentos desadequados. As aulas de apoio, são mais do mesmo. Depois dos recados nas cadernetas e idas ao gabinete disciplinar, pergunta-se aos miúdos o que fazem nos fins de semana- Vais jogar à bola? andar de bicicleta? Não! Porquê? A minha mãe não deixa porque estou de castigo!.

Círculo vicioso este! Semana seguinte, é nova viagem. Para mais do mesmo.

Criminoso o que fazem os burocratas de gabinete. Falta de coragem das direções da escola para pensarem em algo que não seja mais do mesmo. Pobres de muitos destes jovens! Dão-lhes o que eles não querem e tiram-lhes as potencialidades que têm.

Anónimo disse...

Na escola. Uma sessão com 1 convidado. Algumas turmas de alunos mais velhos convidadas a assistir e participar.

Apetitoso, pensei.

Nada de mais errado. No famoso novo "auditório" não se ouve nada.Péssimas condições acústicas, péssimas condições de visibilidade.

Convidado monocórdico cuja voz não passava da primeira fila.

E eu, adulta, portei-me pior do que os alunos. Não tirava os olhos do relógio e pedia ao conferencista para falar mais alto.

Mas as más experiências têm de ter 1 efeito qualquer - aquilo a que estava a assistir era precisamente o contrário do que se devia fazer ao comunicar com jovens.

O cansaço é grande, mas não se pode "comunicar " assim. na próxima aula tenho de lhes explicar que há pessoas que não sabem o que é a escola e os alunos de hoje.

Afinal, perderam 1 aula que até ia ser bem gira e que me deu muito tempo a preparar - para não ser chata e para todos poderem participar.

Eu, adulta, me confesso - não tenho paciência para coisas chatas.

A pior coisa que pode acontecer na escola é ela ser tendencialmente Chata.

E agora venham mais exames, que se faz tarde: 4ª, &º, 9ª mais PETS e etc.

A bem da nação, do rigor, do empreendedorismo, do mandarim e de tudo o mais que eu já não sei o que dizer.....

Zé Morgado disse...

Agora começo eu assim, "absolutamente de acordo"! Com os dois comentários.