O professor universitário João Duque defendeu, esta quinta-feira, em Lisboa, o ensino religioso obrigatório nas escolas públicas, considerando-o fundamental para a preservação dos valores da sociedade laica. Tudo bem, em Portugal, os
especialistas em educação são tantos quantos os habitantes.
Aliás,
as questões de natureza curricular estão permanentemente em agenda. No que
respeita ao ensino religioso, como não esquece João Duque e sabemos todos, o Artº
43ª da Constituição, no ponto 3 dispõe, "O ensino público não será
confessional".
No
entanto, a Concordata em vigor com o Vaticano estabelece que é dever do Estado
Português garantir “as condições necessários para assegurar, nos termos do
direito português, o ensino da moral e religião católicas nos estabelecimentos
de ensino público não superior, sem qualquer forma de discriminação”.
Assim,
no cenário actual temos a oferta obrigatória nas escolas portuguesas da
disciplina de Educação Moral e Religiosa Católica assegurada por professores
pagos pelo Estado e com carreira integrada. A oferta de disciplinas de outras
confissões religiosas é possível mas a expensas próprias e com professores fora
do sistema.
Parece
claro que esta situação viola, por um lado o princípio constitucional do ensino
"não confessional" e, por outro lado, um princípio de equidade face à
também consignada constitucionalmente liberdade religiosa.
Podemos
discorrer longamente sobre a justificação para que este quadro permaneça com
estes contornos, no entanto, não é esse o meu ponto.
Sou
dos que continua a entender que a educação deve integrar imprescindivelmente
uma dimensão de formação pessoal, ética e cívica, o entendimento expresso por
João Duque e a justificação para que exista a obrigatoriedade do ensino
religioso que se centraria, sobretudo, na formação pessoal e cívica e menos no “catolicismo”.
Como
tenho afirmado, se tal não acontecer temos "apenas" ensino de um
conjunto de saberes instrumentais que sendo importante não pode ser, não
deve ser, o "tudo" da educação.
Acontece
que o mesmo Estado que tem assumido os custos da permanência da oferta obrigatória da
disciplina de Educação Moral e Religiosa Católica, de frequência facultativa, é
o mesmo Estado que erradicou a Formação Cívica para todos os alunos dos conteúdos curriculares
assumindo uma visão redutora e perigosa do que é educação e entende por bem
expurgar os currículos de tudo o que Crato não considere “essencial”.
Esta
é, do meu ponto de vista, a questão central.
Assim
sendo, creio que João Duque, em vez de reclamar a obrigatoriedade do ensino
religioso católico, andaria melhor se perguntasse a Nuno Crato porque retirou a
formação cívica do currículo de todos os alunos ao mesmo temo que o sistema
sustenta a frequência opcional da Educação Moral e Religiosa Católica num
quadro constitucional que define um ensino público laico.
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