Através da comparação das taxas
de abandono dos alunos com bolsa ou candidatos a bolsa com os números globais, os
autores minimizam as carências económicas familiares enquanto variável
contributiva de forma significativapara o abandono sublinhando o papel preditor da média de entrada e na necessidade das instituições de ensino superior desenvolverem programas de apoio e acolhimento aos alunos que entram no 1º ano.
Julgo que esta questão merece uma
reflexão mais fina na medida em que em Portugal temos um efeito ainda muito
presente de ligação significativa do rendimento escolar dos filhos ao nível de
escolaridade dos pais e, potencialmente, ao seu nível social, cultural e
económico. Isto pode significar que,
provavelmente, os alunos que se candidatam com médias mais baixas são oriundos
predominantemente de famílias com mais baixos níveis de escolarização.
Como também se reconhecerá, este
nível não tem que ser necessariamente associado a candidaturas a bolsa pois
muitas famílias de rendimentos mais baixos e de nível de escolaridade mais
curto em muitas situações não são elegíveis para atribuição de bolsa.
Aliás, são conhecidas as dificuldades de
promoção de mobilidade social que o sistema educativo português, e não só, atravessa registando ainda níveis baixos de qualificação e perto de 300 000 jovens que
não estudam nem trabalham.
Por outro lado, talvez seja de recordar
no que respeita aos custo de frequência do ensino superior que muitos jovens
portugueses estão a emigrar para realizar os seus estudos superiores em países
em que as propinas são mais baratas que em Portugal, não existem de todo ou são
financiadas, casos da Dinamarca, Reino Unido ou o Canadá e a Austrália fora da
Europa.
Lembrando ainda o episódio das
disparatadas afirmações de Angela Merkel sobre os licenciados a mais que
Portugal apresentará, vale a pena recordar algo que nem todos saberão também.
Na Alemanha não existem propinas nas universidades. Há uns meses, a Baixa
Saxónia foi o último estado alemão a abolir as propinas. Deixem-me partilhar a
afirmação da Ministra da Ciência e da Cultura deste estado que justificou a
decisão de tornar gratuito a frequência do ensino superior “Livramo-nos das
propinas porque não queremos que o Ensino Superior dependa da riqueza dos pais”.
Elucidativo da forma como é vista a qualificação de nível superior.
Mais algumas notas. Segundo o
Relatório "Sistemas Nacionais de Propinas no Ensino Superior
Europeu", divulgado em Outubro de 2014 pela Comissão Europeia,
Portugal é um dos cinco países, entre os 28 Estados membros da
União Europeia, que cobram propinas a todos os alunos do ensino superior.
Integra também o grupo de países em que menos de metade acede a bolsas de
estudo.
Recordo que também em 2014 um
estudo patrocinado pela Comissão Europeia em oito países da Europa revelava,
sem surpresa, que Portugal apresenta uma das mais altas percentagens, 38%, de
jovens que gostava de prosseguir estudos mas não tem meios para os
pagar.
Importa ainda acrescentar que
estamos desde há anos com um abaixamento significativo da procura de ensino
superior apesar deste ano se ter registado uma pequena subida. As dificuldades
económicas são a principal razão para não continuar.
É também de acentuar que, de
acordo com o Relatório da OCDE, Education at a glance 2013, Portugal
é um dos países europeus em que a frequência de ensino superior mais depende do
financiamento das famílias, cerca de 31% dos gastos de universidades e
politécnicos. A média da OCDE é 32% e a da União Europeia, 23,6%.
Como a atribuição de apoios
sociais a estudantes em dificuldades aos estudos tem sido revista em baixa é
fácil perceber a opção de muito jovens portugueses que, dificilmente, voltarão
a Portugal de depois de terminada a sua formação inicial pois as possibilidades
de formação pós-graduada são também, como sabemos, bastante mais acessíveis e
diversificados na diversidade e na qualidade.
A qualificação é a melhor forma
de promover desenvolvimento e cidadania de qualidade pelo que apesar de ser um
bem caro é imprescindível.
O abandono que se verifica a par da baixa da procura
por formação superior são comprometedores do futuro.
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