O calendário das consciências determina que o dia
25 de Maio como o Dia Internacional da Criança Desaparecida. Assim sendo,
algumas notas sobre este inquietante universo.
Segundo o Instituto de Apoio à Criança, em 2014 registaram-se menos casos de crianças desaparecidas que em 2013 sendo que boa parte tem um
desfecho positivo como acontece, aliás, na grande maioria das situações de
crianças que desaparecem.
Lamentavelmente nem sempre os processos decorrem
assim, recordemos as tragédias mais mediatizadas que envolveram o Rui Pedro desaparecido
há 16 anos em Lousada no norte de Portugal e a Maddie McCann em 2007 no Algarve,
dos quais nada se sabe sobre o que lhes terá acontecido.
De há uns anos para cá tem sido feito um esforço
nacional e internacional no sentido de aumentar a eficácia na abordagem a
situações desta natureza bem como dedicar maior atenção aos factores de risco
de que a título de exemplo se citam as redes sociais, que não podendo,
obviamente, ser diabolizadas, apresentam alguns riscos que não devem ser
negligenciados.
Embora se saiba, como já referi, que muitos dos
casos reportados de desaparecimento de crianças e adolescentes acabem por ter,
por assim dizer, um final feliz, o desaparecimento é temporário, reactivo a
incidentes pessoais ou a resultados escolares, alguns transformam-se em
tragédias sem fim como os casos citados do Rui Pedro ou da Maddie McCann.
Merece ainda registo o número elevado de crianças desaparecidas através do
rapto parental em contexto de separações familiares com algo grau de litígio e
que, evidentemente, implicam enorme sofrimento para todos os envolvidos, em
particular para os mais vulneráveis, as crianças.
Situações como as do Rui Pedro ou da Maddie McCann
são absolutamente devastadoras numa família. Nós pais, não estamos
"programados" para sobreviver aos nossos filhos, é quase
"contra-natura". Se a este cenário acresce a ausência física de um
corpo que, por um lado, testemunhe a tragédia da morte mas, simultaneamente,
permita o desenvolvimento de um processo de luto, a elaboração da perda como
referem os especialistas, que, tanto quanto possível, sustente alguma reparação
e equilíbrio psicológico e afectivo na vida familiar, a situação é de uma
violência inimaginável.
No entanto e neste contexto, creio que vale a
pena não esquecer a existência de muitas crianças que estão desaparecidas mas
que, por estranho que possa parecer, estão à vista, situações que por
desatenção e menos carga dramática passam mais despercebidas.
Na verdade, existem muitíssimas crianças e jovens
que vivem à beira de pais e professores para os quais passam completamente
despercebidas, são as que eu designo por crianças transparentes, olhamos para
elas, através delas, como se não existissem. Não estando desaparecidas, estão
abandonadas. Algumas delas não possuem ferramentas interiores para lidar com
tal abandono e desaparecem, mantendo-se à nossa vista, no primeiro buraco que a
vida lhes proporcionar, um ecrã, outros companheiros tão abandonados quanto
eles, o consumo de algo que lhes faça companhia ou a adrenalina de quem nada
tem para perder.
Em boa parte das situações, por estes ninguém
procura.
E alguns, por vezes, também se perdem de vez.
Sem comentários:
Enviar um comentário