Acresce
que entre os países da OCDE Portugal é o quarto país com taxa de desemprego
jovem mais elevada, 35% face a uma média de 14.3%.
É
também de registar a utilização abusiva e escandalosa de estágios profissionais
não remunerados, sobretudo de jovens qualificados, situação que permite aos
empregadores aceder a mão-de-obra gratuita por alguns períodos de tempo que
podendo ter impacto nas estatísticas não muda a vida das pessoas.
Vale
a pena recordar também que, em Janeiro de 2014 e segundo o EUROSTAT, Portugal
era o quinto país europeu, dos 21 considerados, em que mais jovens entre os 25
e os 24 vivem com os pais, 46 %. Para comparação, Dinamarca, Suécia e Finlândia
têm percentagens inferiores a 5 %.
Este
cenário não é mais grave porque muitos milhares de jovens, sobretudo
qualificados, estão a sair do país, emigrando para outras paragens. A emigração
parece assim constituir-se como via quase exclusiva para aceder a um futuro
onde caiba um projecto de vida positivo e viável como tem vindo a verificar-se.
Acresce
que de acordo com um Relatório da Organização Internacional do Trabalho em
2011, 56 % dos jovens portugueses com trabalho têm contratos a prazo. Há algum
tempo uma informação do Banco de Portugal referia que em cada dez empregos
novos para jovens, nove são precários.
Segundo
um estudo da CGTP, 51% dos jovens com menos de 25 anos ganha menos de 500 € e
24,5% dos jovens entre os 25 e os 35 recebe também menos de 500 € mesmo com
qualificações de nível superior. Este cenário evidencia a enorme precariedade
do trabalho e baixa qualificação do mesmo.
A
precariedade nas relações laborais quase duplicou na última década. Portugal é
o segundo país da Europa, a seguir à Polónia, com maior nível de contratos a
prazo. Por outro lado, as políticas de emprego em curso sempre insistem na
maior flexibilização das relações laborais e ainda muito recentemente Passos
Coelho reforçou a necessidade de aprofundar o abaixamento dos custos do
trabalho.
Neste
cenário, os desequilíbrios fortíssimos entre oferta e procura em diferentes
sectores, a natureza da legislação laboral favorável à precariedade e
insensibilidade social e ética de quem decide, promovem a proletarização do
mercado de trabalho mesmo em áreas especializadas ou mesmo o recurso a uma
forma de exploração selvagem com uma maquilhagem de "estágio" sem
qualquer remuneração a não ser a esperança de vir a merecer um emprego pelo
qual se luta abdicando até da dignidade.
Acontece
ainda que alguns dos vencimentos que se conhecem, atingindo também camadas
altamente qualificadas, não são um vencimento, são um subsídio de
sobrevivência.
É
justamente a luta pela sobrevivência que deixa muita gente, sobretudo jovens
sem subsídio de desemprego e à entrada no mundo do trabalho, sem margem
negocial, altamente fragilizadas e vulneráveis, que entre o nada e a migalha
"escolhem amigavelmente" a "migalha", ou mesmo uma remota
hipótese de um emprego no fim de período de um indigno trabalho gratuito. Como
é evidente esta dramática situação vai de mansinho alargando e numa espécie de
tsunami vai esmagando novos grupos sociais e famílias.
É
um desastre. Grave e dramático é que as pessoas são "obrigadas" a
aceitar. Os mercados sabem disso, as pessoas são activos descartáveis.
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