Um dia, talvez eu que sou um
crente optimista nas qualidades do ser humano ainda consiga perceber a estranha
convicção que boa parte da classe política com diferentes origens assume,
sobretudo quando chega ao poder. Todo o seu discurso passa a assentar na ideia
de que, “a realidade está errada, eu é que estou certo, ou seja, a realidade
passa a ser a projecção dos meus desejos”. Dito de outra maneira, assumem que a
realidade está enganada, o que eles pensam e o que afirmam é que está certo.
Sempre.
Na verdade, esta gente, com mais
ou menos habilidade, torturam dados, conhecimentos, informação e experiência e
bombardeiam-nos sistematicamente até que, por exaustão ou acomodação, se
convencem de que nos convencem. A realidade, acreditam, rendeu-se, passou a ser
exactamente aquilo que eles querem que seja.
O problema é que a maldita
realidade teima em desmenti-los.
Recordarão certamente as
afirmações do Primeiro-ministro proferidas no início deste mês no Algarve, o
Governo não "falhou em matéria social e, mesmo nos períodos de maior
dificuldade, conseguiu prestar apoio às franjas mais carenciadas da
população".
Muito provavelmente a fome e
pobreza porque tantos passam inscreve-se num plano de combate à obesidade ou
num voto de pobreza que garanta o céu.
Só para citar mais alguns dados,
segundo a Cáritas Europa Portugal foi o país em que o risco de pobreza mais
subiu em 2014 sendo que cerca de 25% de crianças estão nesta situação.
Mais de metade dos desempregados
não acede a subsídio de desemprego. Foram cortados milhares de subsídios de
abono de família e de outras prestações sociais como o rendimento social de
inserção. Milhares de famílias caíram na insolvência sobretudo em consequência
do desemprego brutal que as esmagou.
Maldita realidade, sem ela tudo
estaria tão bem.
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