Parece ainda relevante que 57,3%
dos jovens entre os 15 e os 24 não se interessa “nada” por política e quando
colocados perante a afirmação “daqui a dois anos, a crise terá terminado e a
situação do emprego em Portugal será melhor do que hoje”, a maioria discordou,
60,8% entre os 15 e os 24 e 66,5% entre os 25 e os 34.
Acresce que os dados sugerem que
a proporção de jovens sem trabalho há mais de um ano é “muito significativa”.
Entre os inquiridos, dos 15 aos 24 anos, 38,2% estão sem emprego há mais de um
ano; entre os 25 e os 34 anos a percentagem chega aos 52,8%.
Este conjunto de dados parece
profundamente elucidativo e inquietante reflectindo a falta de confiança num
futuro por cá, o insustentável nível de desemprego jovem e, simultaneamente, a falta de interesse e motivação pela acção
política, justamente, a forma de em democracia promover mudanças.
Talvez se recordem de há algum
tempo a Ministra das Finanças ter afirmado que devemos relativizar o fenómeno
da emigração jovem, "Se quiserem fazer opções lá fora devem fazê-lo",
acrescentou.
Não é nada disto, a maioria dos
jovens que parte, conforme os estudos apontam, não o faz porque quer “fazer
opções lá fora”, partem porque não têm opções cá dentro e este êxodo não pode
ser “relativizado” ou desvalorizado, é um drama para o país e um drama para
muitas famílias.
Na verdade, a emigração parece
estar a constituir-se como via quase exclusiva para aceder a um futuro onde
caiba um projecto de vida positivo e viável, algo que por cá não é fácil de
definir. Aliás, vários outros inquéritos a estudantes universitários mostram
como muitos admitem emigrar em busca de melhores condições de realização
pessoal e profissional apesar de muitos afirmarem que pretendem voltar.
Somos um país de emigrantes de há
séculos pelo que este movimento de partida, só por si, não será de estranhar.
No entanto, creio que é preocupante constatarmos que durante muitos anos a
emigração se realizava na busca de melhores condições de vida, a agora a
emigração realiza-se à procura da própria vida, muita gente, sobretudo jovens
não tem condições de vida, tem nada e parte à procura, não de melhor, mas de
qualquer coisa. Este vazio que aqui se sente é angustiante, sobretudo para quem
está começar, se sente qualifica e com o desejo de construção de um projecto de
vida viável e bem sucedido.
Por outro lado e como é
reconhecido, de uma forma geral, o ensino superior e a investigação em Portugal
têm uma qualidade que internamente nem sempre é reconhecida e que se evidencia
na frequência com que em diversas áreas se assiste à contratação de jovens que
estudaram em Portugal para trabalho em empresas ou em investigação em
diferentes países, onde se incluem, por exemplo, a Inglaterra, a Alemanha ou os
Estados Unidos que não são propriamente países com baixo nível de
desenvolvimento científico.
Neste quadro, torna-se ainda mais
preocupante a partida para o estrangeiro de muitos milhares de jovens, com
formação superior de elevada qualidade, porque em Portugal um projecto de vida
viável e com sucesso é uma miragem. Este êxodo tem, obviamente, com profundas
consequências para um país como Portugal.
Em primeiro lugar, porque sendo
um país com uma fortíssima necessidade de qualificação nas empresas, vê partir
os que mais preparados estariam o que terá, evidentemente, um impacto económico
significativo. Aliás e curiosamente, este entendimento é recorrentemente
afirmado por um Governo com forte responsabilidade pela emigração forçada de
milhares de jovens com formação superior, designadamente trabalhadores na área
científica, que não vislumbram o futuro em Portugal.
Em segundo lugar, porque importa
não esquecer que os custos da formação dos jovens qualificados em Portugal são
suportados por todos os nós no caso do ensino público e das famílias ou dos
próprios na formação em estabelecimentos privados embora, considerando também o
ensino público, os custos para as famílias na frequência de ensino superior em
Portugal seja dos mais altos na Europa. Isto significa que Portugal, o estado e
as famílias, suportam os custos da formação e os outros países aproveitam essa
qualificação uma vez que os jovens não conseguem desenvolver o seu trabalho em
Portugal.
E o futuro? O futuro não mora
aqui.
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