Numa brevíssima síntese ficamos a
saber que numa década Portugal tem dez vezes mais inscritos em cursos de
mestrado, que existem pessoas com grau de mestre no desemprego e ou com
problemas de empregabilidade associadas à área de formação e que o estatuto
remuneratório dos diplomadas é muito significativamente superior ao de pessoas
com habilitações até ao ensino secundário.
Algumas notas.
O aumento exponencial da procura
de mestrados radica em vários fenómenos. Em primeiro lugar e desde logo porque o
desenvolvimento das comunidades exige mais e melhor qualificação.
Em segundo lugar é de considerar
que a chamada Reforma de Bolonha encurtou as licenciaturas, retirando-lhes valor,
proporcionando valores muito mais simpáticos do número de pessoas com ensino
superior e minimizando os custos públicos com o ensino superior pois o grau
seguinte, mestrado, é suportado pelos estudantes e famílias.
Acontece ainda que, por um lado
pela desvalorização da licenciatura, passando a três anos o que se fazia em
cinco, levou a que muita gente entendesse continuar a estudar para além da
licenciatura, por outro lado, existem áreas de formação em que o requisito para
o exercício profissional é de cinco anos de formação de base pelo, obrigatoriamente
qualquer candidato a essas áreas terá de fazer licenciatura e mestrado. É o caso
da minha área de intervenção, realizei uma licenciatura de cinco anos que me habilitou
para a profissão e os meus colegas mais novos têm de realizar licenciatura e
mestrado para acederem aos cinco anos de formação inicial exigidos.
Ainda em matéria de demografia
importa salientar que nos últimos anos estamos a assistir a um preocupante
abaixamento da procura de formação superior que alguns estudos associam às
dificuldades das famílias e às percepções sobre empregabilidade e precariedade.
De novo retomo a ideia de que
isto assenta em perigosos equívocos.
O primeiro, radica no discurso
recorrentemente difundido, ampliado por alguma imprensa preguiçosa, de que,
dada a enorme taxa de desemprego de jovens com qualificação superior, o
investimento numa qualificação superior não compensa pois não existe mercado de
trabalho, alguns empregos que surgem são precários e mal pagos e muita gente
qualificada está a ser empurrada para fora por falta de futuro cá.
No trabalho de hoje, uma das
peças do trabalho do Público titula "Número de mestres no desemprego disparou quase 30 vezes em sete anos". Quando
analisamos os números percebe-se que os mestres representam 1.7% dos
desempregados registados. Elucidativo.
No que se refere à diferença significativo no estatuto salarial mostra,
como sempre afirmo, que estudar compensa. Aliás, vários relatórios, da OCDE,
por exemplo, mostram que Portugal é, justamente, um dos países em estudar mais
compensa.
É claro que não podemos esquecer o
altíssimo e inaceitável nível de desemprego entre os jovens, em particular
entre os jovens com qualificação superior, obrigando tantos a partir à procura
de um futuro que por cá não vislumbram mas esta questão decorre do baixo nível
de desenvolvimento do nosso mercado de trabalho, de circunstâncias conjunturais
e de erradas políticas de emprego e não da sua qualificação.
Neste cenário e como sempre
afirmo, o discurso muitas vezes produzido no sentido de que "não adianta
estudar" não colhe e não tem sustentação sendo, um autêntico tiro no pé de
uma sociedade pouco qualificada como a nossa que, efectivamente e
contrariamente à tão afirmada quanto errada ideia de que somos um país de
doutores, continua, em termos europeus, com uma das mais baixas taxas de
qualificação superior em todas as faixas etárias incluindo as mais jovens
apesar das afirmações insustentáveis de Angela Merkel.
Conseguir níveis de qualificação
compensa sempre e é imprescindível. Estudar e conseguir qualificação de nível
superior compensa ainda mais.
Portugal não tem gente
qualificada a mais, tem é desenvolvimento a menos. Temos também um mercado de
trabalho que a cegueira da austeridade e do empobrecimento tem vindo a
proletarizar e que não absorve a mão-de-obra qualificada, sobretudo jovem. Não podemos passar a
mensagem de que a qualificação não é uma mais-valia.
É um tiro no pé.
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