sexta-feira, 15 de maio de 2015

DO BULLYING E DA VIOLÊNCIA ENTRE JOVENS. DE NOVO

Os episódios recentes e muito mediatizados envolvendo violência entre adolescentes e jovens ou situações de bullying nas suas diferentes formas, alguns destes episódios com resultados trágicos, não retiram da agenda de preocupações estas matérias pelo que retomo algumas notas.
Esta constatação e o conhecimento de que, caso de Portugal,  diferentes estudos sugerem cerca de um terço dos adolescentes entre os 13 e os 15 anos é vítima de bullying sublinham a particular importância deste fenómeno com uma particular preocupação com a subida significativa do cyberbullying.
Sabemos todos que a ocorrência de situações de bullying é bem superior ao número de casos que são relatados. Uma das características do fenómeno, nas suas diferentes formas, incluindo o emergente cyberbullying, é justamente o medo e a ameaça de represálias a vítimas e assistentes que, evidentemente, inibem a queixa pelo que ainda mais se justifica a atenção proactiva e preventiva de adultos, pais, professores ou funcionários.
Neste cenário, a mediatização dos casos pode ter um efeito, esperemos, de tornar a comunidade mais atenta ao fenómeno e mais empenhada e disponível para intervir das diferentes formas possíveis e necessárias.
Dada a gravidade e frequência com que ocorrem estes episódios é, pois,  imprescindível que lhes dediquemos atenção ajustada, nem sobrevalorizando, nem tudo é bullying, o que promove insegurança e ansiedade, nem desvalorizando, o que pode  negligenciar riscos e sofrimento.
Neste universo importa considerar dois eixos fundamentais de intervenção por demais conhecidos, a prevenção e a intervenção depois dos problemas ocorrerem. Esta intervenção pode, por sua vez e de forma simplista, assumir uma componente mais de apoio e correcção ou repressão e punição, sendo que podem coexistir. Com alguma demagogia e ligeireza a propósito do bullying, as vozes a clamar por castigo têm do meu ponto de vista falado mais alto que as vozes que reclamam por dispositivos de prevenção, intervenção e apoio para além da óbvia punição, quando for caso disso.
Relembro que o Portal sobre o bullying teve durante o seu primeiro ano de funcionamento cerca de 650 000 visitas e respondeu a 700 solicitações.
Esta utilização mostra a necessidade de dispositivos de apoio e orientação absolutamente fundamentais para que pais, professores e alunos possam obter informação e apoio. Lamentavelmente, este serviço é exterior às escolas e ilustra a falta de resposta estruturada e global do sistema educativo, para além das insuficiências na formação de técnicos e de professores sobre esta complexa questão, desde logo para o seu reconhecimento.
A existência de dispositivos de apoio sediados nas escolas, com recursos qualificados e suficientes, designadamente no que respeita aos assistentes operacionais com funções de supervisão dos espaços escolares, é, a par de ajustamentos nos modelos de organização e funcionamento das escolas e de uma séria reestruturação curricular, uma tarefa urgente. No entanto, não é possível considerar-se que a escola é mágica e omnipotente pelo que tudo resolverá. Tudo pode envolver a escola, mas nem tudo é da exclusiva responsabilidade da escola, família e outros actores da comunidade devem assumir responsabilidades.
Do meu ponto de vista, o argumento custos não é aceitável porque as consequências de não mudar são incomparavelmente mais caras. Depois das ocorrências torna-se sempre mais fácil dizer qualquer coisa mas é necessário. Muitas crianças e adolescentes evidenciam no seu dia-a-dia sinais de mal estar a que, por vezes, não damos atenção, seja em casa, ou na escola, espaço onde passam um tempo enorme. Estou a falar tanto de vítimas como de agressores. A preocupação e intervenção deve envolver uns e outros.
Estes sinais não podem, não devem, ser ignorados ou desvalorizados. O resultado pode ser grave. Como nos últimos tempos temos verificado.

2 comentários:

Anónimo disse...

Boa tarde caro Professor, hà coisa de 20 anos atras eu fui vitima de BULLYING, termo que se usa actualmente.
Na minha opinião seria necessário acima de tudo uma cultura de ''educação'' e respeito pelo outro.è um fenómeno que marca para uma vida inteira.
Para terminar as escolas públicas poucas são as que tem psicólogos Clínicos, ou mesmo assistentes sociais.(Estes fenómenos também são reflexo da crise económica que vivemos), para além da crise social e de valores.

Deixo aqui um link do Público sobre os custos da educação.Uma aluna de doutoramento com uma plataforma de Crowfunding para imprimir a tese.
http://p3.publico.pt/actualidade/ciencia/16713/silvia-criou-um-quotcrowdfundingquot-para-imprimir-tese-de-doutoramento

Cumprimentos
Pedro.

Zé Morgado disse...

Olá pedro, duas notas.
1 - Não vejo a justificação/possibilidade das escolas contarem com Psicólogos Clínicos nas suas equipas. Nas escolas decorrem processos educativos num contexto educativo, terreno e contexto de trabalho para Psicólogos da Educação. Concordo com a relação entre comportamentos, valores e circunstâncias sociais de maior fragilidade. Está estudada e comprovada.
2 - Na altura em que foi divulgada a situação dessa aluna de doutoramento, fiz-lhe referência através do FB. Abraço