Deixem-me partilhar uma micro-história que uma Mãe
trouxe cá para casa.
A Filha é uma adolescente, com um diagnóstico de
atraso cognitivo que frequenta uma escola inclusiva, dizem.
A Mãe foi buscar a filha à escola e quando iam a
sair a filha exclama “Olha um melro, é da Primavera”.
Perto estavam duas auxiliares e uma delas afirmou
para que Mãe e Filha ouvissem, “Olha! Sabe o que é um melro! Não é tão parva
como a gente pensa”.
Na verdade, as pessoas, mais pequenas ou maiores
não são tão parvas como a gente pensa.
Muitas vezes tenho afirmado que o conjunto de
convicções e expectativas que estão presentes na comunidade educativa influenciam
o trabalho desenvolvido com estes alunos ao ponto desse próprio trabalho ser
um factor de debilização, ou seja, alimenta a sua incapacidade.
Tal facto, não decorre da incompetência genérica
dos técnicos, julgo que na sua maioria serão empenhados e competentes, mas da
sua própria representação sobre este grupo de alunos, isto é, não acreditam que
eles realizem ou aprendam. Desta representação resultam situações e contextos
de aprendizagem, tarefas e materiais de aprendizagem, expectativas baixas
traduzidas na definição de objectivos pouco relevantes, que, obviamente, não
conseguem potenciar mudanças significativas o que acaba por fechar o círculo,
eles não são, de facto, capazes. É um fenómeno de há muito estudado.
O que acontece, sem ser por magia ou mistério, é
que quando nós acreditamos que os miúdos são capazes, eles não se
"normalizam" evidentemente, mas são, na verdade, mais capazes, vão
mais longe do que admitimos. Não esqueço a gravidade de algumas situações mas,
ainda assim, do meu ponto de vista, o princípio é o mesmo, se acreditarmos que
eles progridem e são capazes de ... , o que fazemos, provoca progresso, o
progresso possível.
E isto envolve professores do ensino regular, de
educação especial, técnicos e pais.
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