sábado, 21 de fevereiro de 2015

DA EDUCAÇÃO INCLUSIVA


Um inquérito conduzido pela Universidade do Porto sobre a educação Pré-escolar, apesar de algumas limitações relativas à representatividade do universo de educadores que responderam, evidencia alguns dados que deverão merecer profunda reflexão.
Desses dados salientaria a referência a inúmeras de salas de jardim de infância que acomodam crianças com necessidades educativas especiais, sem qualquer apoio. Na rede pública as situações reportadas variaram entre uma e sete crianças numa sala.
Aliás, a necessidade de formação e apoio para o trabalho com crianças com necessidades especiais foi, justamente, uma das grandes prioridades identificadas pelas educadoras inquiridas.
O cenário é alarmante mas não, lamentavelmente, inesperado.
A falta de recursos e dispositivos de apoio para os alunos com necessidades especiais e para as escola ou jardins de infância que os acolhem é uma matéria recorrente e objecto de referência em sucessivos relatórios da Inspecção-Geral de Educação ou do Conselho Nacional de Educação, por exemplo.
Se considerarmos este cenário, crianças com necessidades especiais em idade de educação pré-escolar sem apoios adequados é fácil e terrível imaginar as consequências para o seu desenvolvimento e progresso que transportarão ao longo da sua estadia de 12 anos na escolaridade obrigatória.
Num país em que a retórica da educação inclusiva informa quase toda legislação e os discursos políticos a situação real mostra como, de facto, o bem estar das crianças e o trabalho de dos educadores e educadoras está altamente comprometido.
Como muitas vezes aqui tenho afirmado, embora Portugal tenha um nível muito elevado de crianças com necessidades especiais em estruturas de ensino regular, boa parte destas crianças não estão incluídas, integradas, estão "entregadas". Os seus professores ou educadores e famílias também estão entregues a si próprios.
Apesar do esforço e do empenho da esmagadora maioria dos professores, de ensino regular e de educação especial, de técnicos e das famílias, em muitas situações, a educação, a escola inclusiva é um fingimento.
Não era com isto que gostava de começar o dia.

2 comentários:

Sofia Roque disse...

Bom dia professor. Concordo plenamente com o fingimento da educação inclusiva. Saliento ainda a hipocrisia das leis que exigem os técnicos para a sua aplicação, mas que na prática não sao colocados nas escolas pelos mesmos senhores que ditam as leis. Felizmente, a escola privada onde trabalho teve a dignidade de contratar os tecnicos necessarios para podermos aceitar todos os meninos que nos procurem. No momento temos salas/ turmas com mais do que uma NEE. Entraremos na exceção? Cumprimentos. Ana Sofia Roque

Zé Morgado disse...

Olá Sofia, o meu texto dirige-se ao universo da escola pública onde também, naturalmente, existem muitas experiências positivas