Há já muito tempo que não me
lembrava dele, do Zé Mau. O Zé Mau foi meu companheiro de escola na primária,
sou do tempo da primária, antes de inventarem o 1º ciclo.
O Zé Mau embora fosse da nossa
idade parecia ter uns anos a mais, era mais alto e um bocado para o “cheio”. O
Zé Mau não tinha assim muito jeito para a escola, a professora estava sempre a
dizer-lho. Mas o Zé Mau tinha jeito para a luta, qualquer coisa que o
incomodasse mais seriamente o Zé Mau espigava e, sem grande dificuldade, ia
para a "porrada".
Passava o tempo na rua, quando
ainda brincávamos na rua. Claro que alguns de nós tínhamos medo do Zé Mau,
outros tínhamos inveja e até gostávamos do Zé Mau, isto era antes de inventarem
o bullying. O pessoal, como eu, que andava mais na rua, gostava de sentir o Zé
Mau por perto, sobretudo, quando íamos jogar à bola umas ruas mais para baixo
com os putos dessa zona. A coisa raramente acabava de forma pacífica e era
então que o Zé Mau dava um jeitão.
Logo a seguir à primária o Zé Mau
já não nos acompanhou, ficou chumbado, antes de inventarem a retenção. Andou
mais dois ou três anos na escola e para ele chegou, antes de inventarem o
“dropout”.
De vez em quando, raramente,
cruzava-me com ele, o que já não acontecia faz um tempo longo. Entre uma
“imperial” e as memórias, sabia da sua vida de biscates e encrencas.
Ontem, um companheiro desses
tempos, mandou-me uma mensagem, “Sabes que morreu o Zé Mau? Estava preso e
suicidou-se”.
Ele era assim, o Zé Mau, não era
tipo para estar preso, nunca se deixou agarrar. Ainda bem que já não vou jogar
à bola com os putos das ruas de baixo, o Zé Mau não vai estar para nos
defender.
Sem comentários:
Enviar um comentário