"Creche: Quanto mais cedo melhor?"
No Público faz-se referência a
uma investigação desenvolvida por médicos portugueses assente na revisão de
estudos internacionais que sugerem a vantagem para o desenvolvimento das
crianças fa frequência da creche. Apesar da forma cautelosa como estudo é
referido, até pelos autores, e de uma definição estreita de desenvolvimento,
centrada sobretudo nos aspectos cognitivos, umas notas telegráficas sobre esta
questão, é bom ou não para as crianças a entrada cedo nas creches, em
alternativa à família, pais ou avós, ou amas.
Como é sabido, Portugal tem um
dos mais elevados custos de equipamentos e serviços para crianças o que é,
naturalmente, um forte constrangimento um obstáculo para projectos de vida que
envolvam filhos. Por outro lado, sobretudo nas grandes áreas metropolitanas,
existe uma falta significativa de respostas e recursos a preços acessíveis para
o acolhimento a crianças dos 0 aos 3 anos é, como já disse, um dos grandes
obstáculos a projectos familiares que incluam filhos, levando aos conhecidos e
reconhecidos baixos níveis de natalidade entre nós, 30 % das mulheres
portuguesas têm apenas um filho. Acresce a duração da licença de maternidade,
quatro meses, que acelera a necessidade da presença de outros cuidadores e
educadores acessíveis às famílias
A alteração dos estilos de vida,
a mobilidade e a litoralização do país, levam à dispersão da família alargada
de modo a que os jovens casais dependem quase exclusivamente de respostas institucionais
que, ou não existem, ou são demasiado caras.
Neste quadro, prolifera a oferta
clandestina, tal como no caso dos idosos, onde, a preços bem mais acessíveis e
sem controlo da qualidade, se depositam os miúdos. Neste contexto surgem com
demasiada regularidade notícias sobre episódios de negligência ou mesmo maus
tratos.
É certo que não fica fácil a
fiscalização dos serviços competentes porque a situação também serve às
famílias, pelo custo e pela simples existência para "guarda" dos seus
filhos.
Sabemos todos como o
desenvolvimento e crescimento equilibrado e positivo dos miúdos é fortemente
influenciado pela qualidade das experiências educativas nos primeiros anos de
vida, de pequenino é que ...
Esta é, do meu ponto de vista, a
questão central, nos primeiros anos de vida as experiências educativas, designadamente,
os aspectos sociais, afectivos e emocionais são fundamentais para a construção
pessoal.
Estas experiências de qualidade
podem acontecer tanto em contexto familiar como em contexto de creche. Também
me parece importante que as crianças vivenciem experiências institucionais de
educação pré-escolar ou creche. No entanto, como há tempos afirmava o Professor
Mário Cordeiro, havendo condições nas famílias, qualidade e disponibilidade, ou
em ambientes de natureza familiar, não é imprescindível para o seu
desenvolvimento que as crianças frequentem a creche antes dos dois anos. Assim sendo, a resposta à questão suscitada no título da peça do Público "Creches. Quanto mais cedo melhor?" é, do meu ponto de vista, negativa. Não é imperativo para o bem-estar das crianças que entrem o mais cedo possível para a creche.
Insisto, no entanto, que importa
assegurar a existência de creches a custo acessível à generalidade das famílias
e, obviamente, regular a qualidade do seu serviço evitando que se transformem
em depósitos de crianças. Trata-se de uma aposta no futuro.
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