"MEC avalia quase 500 cursos curtos para o próximo ano lectivo"
A coberto das bolonhesas ideias
que já tinham permitido uma espécie de "meio mestrado" surgiu a
formulação da "meia licenciatura" que apesar de não conferir um grau
académico contribui para a estatística da formação superior definida pela UE, uma tentação de
sempre de quem habita o poder e, de caminho, disponibiliza-se um balão de
oxigénio ao ensino politécnico cuja procura baixou significativamente.
Assim, jovens com o secundário
incompleto, podem vir a completá-lo simultaneamente à frequência da "meia
licenciatura" acedem, sem exame de candidatura, a um curso superior, é
sempre social e politicamente relevante, ajudam a completar as metas europeias
para os níveis de qualificação e satisfazem por encomenda das empresas as suas
necessidades de mão-de-obra qualificada pois, afirmava na altura do lançamento
o Secretário de Estado do Ensino Superior, "o número de alunos a admitir
vai depender das carências identificadas por cada região em parceria com as
empresas da zona, “que terão o papel crucial de dizerem as necessidades de
formação e de acolherem os jovens a fazer estágio”, afirmou então o Secretário
de Estado do Ensino Superior.
O último semestre da formação
será a realização de um estágio nas empresas que, certamente, encomendaram a
formação dos "meio licenciados". As empresas agradecem, "no aproveitamento de estagiários é que está o ganho" diz o ditado.
No entanto, contra a expectativa
do MEC, numa primeira fase o Conselho Coordenador dos Institutos Politécnicos
teve a sensatez de exprimir sérias reservas face do modelo proposto de
formação superior "low cost", em dois anos, a "meia
licenciatura" como o Secretário de Estado a designou, o MEC insistiu, deu
um passo em frente e acenou com 140 milhões em sete anos avançou com 20
milhões. As reservas dos Politécnicos atenuaram-se, naturalmente, e apesar dos
atrasos significativos na aprovação dos Cursos Técnicos Superiores Profissionais, a primeira edição não teve grande adesão, para o próximo ano a oferta poderá aumentar significativamente.
Como alguns especialistas em
ensino superior e na altura o próprio Conselho Coordenador têm vindo a afirmar,
a "meia licenciatura" não é muito diferente dos Cursos de Especialização
Tecnológica já existentes. Tem, no entanto, uma vantagem muito importante,
conta para a estatística da formação superior e permite tentar atingir a meta
definida pela Comissão Europeia. Curiosa medida, obviamente “facilitista”,
vinda do MEC gerido pelo arauto e farol do combate ao facilitismo de anos
anteriores, Nuno Crato. Se bem repararmos fica bem mais barato financiar cursos
de dois anos do que cursos de três e o efeito estatístico é o mesmo. As contas
foram bem feitas.
Para além de não acrescentar nada
de significativo aos CETs, ainda me parece que se pode estabelecer um conflito
potencial com a oferta de licenciaturas já existentes nos politécnicos,
adquiridas em três anos, uma vez que o MEC afirma que depois da
"meia licenciatura" o aluno pode ingressar numa licenciatura através
de uma "prova local" da responsabilidade de cada instituto. Tal
situação no actual quadro de abaixamento demográfico e de sobredimensionamento
da rede vai, evidentemente, significar ... mais facilitismo.
Acresce que o mesmo MEC que tem
vindo a proceder a um claro desinvestimento no Ensino Superior, politécnico e
universitário, consegue encontrar verbas, europeias, claro, disponíveis para
financiar estas "Novas Oportunidades" em modo ensino politécnico.
Dá-se sempre um jeito.
Na verdade, é justo que se
reconheça, lata e manhosice criativa são dois atributos em que o MEC é de uma
competência notável.
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