"Transferência da Educação para as câmaras gera preocupação e indignação"
No estilo habitual de decidir,
primeiro, e fingir que ouve, depois, o
MEC publicou o enquadramento normativo
da experiência-piloto, ler projecto definitivo, da chamada municipalização da
educação.
O que muita gente tem vindo a afirmar
confirma-se. O MEC "esqueceu-se", a sua agenda assim o determina, de considerar com
atenção os resultados de experiências de "municipalização" realizadas
noutros países nos termos em que Nuno Crato defende e cujos resultados estão
longe de ser convincentes.
O cenário agora criado não é
particularmente optimista. O que se vai passando no sistema educativo português
no que respeita ao envolvimento das autarquias nas escolas e agrupamentos,
designadamente em matérias como as direcções escolares, os Conselhos gerais ou
a colocação de funcionários e docentes (nas AECs, por exemplo) dá para ilustrar
variadíssimos exemplos de caciquismo, tentativas de controlo político,
amiguismo face a interesses locais, etc. O controlo das escolas é uma enorme
tentação. Podemos ainda recordar as práticas de muitas autarquias na
contratação de pessoal, valorizando as fidelidades ajustadas e a gestão dos
interesses do poder. A "sensibilidade" das autarquias é matéria de geometria variável.
Assim sendo, a insistência teimosa
e arrogante mostra a determinação de cumprimento da sua visão, da sua agenda.
Ainda nesta matéria e dados os
recursos económicos disponíveis, poderemos correr o risco de se aumentar o
"outsourcing" e a promoção de PPPs que já existem nas escolas, muitas
vezes com resultados pouco positivos, caso de apoios educativos e do
recurso a empresas de prestação de serviços, (de novo o exemplo das AECs).
Finalmente, uma referência ao
equívoco intencional sempre presente de relacionar a autonomia das escolas com
a municipalização. O imprescindível reforço da autonomia das escolas e
agrupamentos não depende da municipalização como muitas vezes se pretende fazer
crer.
A legislação aprovada vem
justamente retirar autonomia às escolas, aliás, ao arrepio de alguma legislação já existente.
Está aberto um perigoso trajecto e
a retórica produzida sobre "proximidade" não passa de uma cortina de fumo para mascarar
os caminhos dos negócios da educação.
Sem comentários:
Enviar um comentário