Era uma vez um homem chamado Sem Nada. Como é de tradição nasceu de um
Sem Nada e Sem Nada ficou.
Toda a sua vida foi um homem que, como agora se diz, não teve oportunidades,
ou se teve, não deu por isso, ou ainda, se as teve não as aproveitou.
Cresceu como crescem os Sem Nada, por ali, por aqui, em risco e sem
projecto, como agora se diz.
A sua vida adulta foi uma sucessão de desencontros com os afectos e de
passagens breves por actividades avulsas que foram autorizando a sobrevivência
do Sem Nada.
Velho, o Sem Nada arrumou-se onde se arrumam os velhos como o Sem Nada,
sós no meio dos outros iguais a si.
Finalmente, saiu da vida exactamente como entrou, Sem Nada. Cumpriu o
destino dos Sem Nada.
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