quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

NEGRURA CRÁTICA SOBRE A INVESTIGAÇÃO CIENTÍFICA


Como se esperava, os resultados das candidaturas a bolsas de doutoramento e pós-doutoramento atribuídas pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia foram absolutamente devastadores.  Dos 3416 candidatos para bolsas de doutoramento, só 298 receberam a bolsa. No caso dos pós-doutoramentos, só 233 cientistas receberam bolsas entre 2305 candidaturas.
Está estudada e reconhecida de há muito a associação fortíssima entre o investimento em educação e investigação e o desenvolvimento das comunidades, seja por via directa, qualificação e produção de conhecimento, seja por via indirecta, condições económicas, qualidade de vida e condições de saúde, por exemplo.
Com o desinvestimento fortíssimo no ensino superior e investigação que tem vindo a verificar-se e vai continuar, corremos o sério risco de ver ameaçados e destruídos os excelentes resultados que os centros, laboratórios e unidades de investigação e as instituições de ensino superior têm vindo a alcançar e que atestam o esforço e a competência da comunidade científica portuguesa e o trabalho realizado no âmbito do ensino superior e investigação, traduzidos no reconhecimento internacional das nossas instituições como ainda hoje foi noticiado, irónica coincidência, com a atribuição a cientistas a trabalhar em Portugal de financiamento por parte do Conselho Europeu de Investigação. 
Como em quase tudo é uma questão de escolhas e prioridades de quem lidera. O problema como referia também o Professor Sobrinho Simões num entrevista de há algum tempo sobre estas questões é que "os nossos políticos têm um problema ... alguns não se apercebem do valor do ensino superior e da investigação".
A negrura crática que cai sobre a investigação vai ter consequências brutais em termos de desenvolvimento científico e económico para além, evidentemente, do impacto nas carreiras pessoais assim ameaçadas de milhares de pessoas que investigam, criam conhecimento, promovem desenvolvimento e que assim, provavelmente, ou desistem ou emigram.
E assim se destrói um país.

3 comentários:

Anónimo disse...

Gastaram tudo em escolas megalómanas e num número de computadores desnecessários. Agora, aflitos, cortam (no mais fácil, claro).

Ramses II disse...

Demoramos duas décadas a poder construir um sistema de investigação de qualidade, publicando nas melhores revistas da especialidade com circulação internacional, atraindo estrangeiros para os nossos laboratórios e universidades, melhorando significativamente o nivel e a qualidade de ensino e formação, apetrechando-nos com equipamento do melhor que havia na altura e a colaborar com empresas. Este esforço foi reconhecido pelos nossos pares internacionais e reflecte-se, por exemplo, nos convites em conferências internacionais das melhores que há. Em pouco menos de 4 anos destruiu-se centenas de postos de doutoramento e pós-doutoramento, atingindo valores anteriores a 1998. Este governo não sabe nada de ciência nem de ensino superior.
Esta é uma notícia verdadeiramente triste. É o culminar de uma tendência. O ponto alto da hecatombe. É preciso perceber bem quem é afectado por esta medida. É preciso conhecer os candidatos às bolsas. Na maioria, jovens. Alunos (muito) acima da média, dedicados. Muitos com o seu trabalho reconhecido internacionalmente (pós-Docs) e com publicações de elevado impacto. O que vão fazer? Trabalhar em projetos de I&D? Quais? A FCT também aí cortou cegamente... Subsídio de desemprego? Não há! O trabalho dos bolseiros não é considerado trabalho. Emigrar. Mais uma vaga de emigração de "cérebros" para fora. Os boys dos partidos, apesar de medíocres, não tem dificuldade em encontrar emprego cá... Infelizmente, é com esses que o país fica!

Anónimo disse...

Há de se dizer que os boys (e girls) não se limitam à Belem, presentes estão também nos centros de investigação, laboratórios, universidades, a fazer uso das verbas dos projectos para fins dubios. Assim não há verba que chegue! Todos veem, ninguém protesta. O rei vai nu.