No Público está um trabalho sobre o número
significativo de professores que procura colocação no estrangeiro dada a
ausência de perspectivas em Portugal. Os professores são apenas mais um exemplo
de grupos de profissionais qualificados que partem para outras paragens em busca
de um futuro que por cá parece comprometido.
Em Janeiro, o Secretário de Estado das
Comunidades afirmava que nos últimos dois anos terão emigrado cerca de 200 000
portugueses, estimando que em 2013 os números sejam da mesma ordem de grandeza.
É também conhecido que, a par da Irlanda, somos o
país de onde sai gente com maior qualificação o que exige ainda maior reflexão
pelas consequências previsíveis.
Somos um país de emigrantes de há séculos pelo
que este movimento de partida, só por si, não será de estranhar. No entanto,
creio que é preocupante constatarmos que durante muitos anos a emigração se
realizava na busca de melhores condições de vida, a agora a emigração
realiza-se à procura da própria vida, muita gente, sobretudo jovens não tem condições
de vida, tem nada e parte à procura, não de melhor, mas de qualquer coisa.
Este vazio que aqui se sente é angustiante,
sobretudo para quem está começar, se sente qualificado e com o desejo de
construção de um projecto de vida viável e bem sucedido.
Alguns inquéritos junto de estudantes
universitários mostram como muitos, a maioria, admite emigrar em busca de
melhores condições de realização pessoal e profissional apesar de muitos
afirmarem que pretendem voltar.
Lembramo-nos ainda de intervenções de incentivo à
emigração qualificada, posteriormente negadas e forma despudorada, por Passos
Coelho e do Ex-Ministro Miguel Relvas dirigidas, por exemplo, a professores e
jovens qualificados.
Parece-me relativamente claro que a questão
central nesta matéria não é o movimento que desde há muito os portugueses
realizam de procurar trabalho fora do país, trata-se também da construção de um
projecto de vida auto-determinado. Sabemos, aliás, que é desejável em
diferentes perspectivas, que estes fluxos se realizem.
O que me parece fortemente significativo é o que
representa de descrença de tanta gente, de que seja possível desenvolver um
projecto de vida viável e com potencial de realização pessoal e profissional no
nosso país.
Nesto contexto, como tenho referido, as
declarações dos responsáveis políticos assumem particular importância. Não
podem assumir que a solução para os problemas das pessoas, por exemplo o
desemprego, é abandonar o país, particularmente um país, Portugal, com sérias
necessidades de mão-de-obra qualificada, um dos mais baixos níveis de
qualificação da Europa e um dos grandes obstáculos ao nosso desenvolvimento,
não pode acenar com a “sugestão” de emigração exactamente para a franja mais
qualificada da nossa população. Trata-se uma visão absolutamente inaceitável.
Muita desta gente parte com amargura de uma
terra, a sua, onde sentem que não cabem e o futuro … é um sonho impossível.
1 comentário:
No Distrito de Santarém coexistem 2 Institutos Politécnicos - o de Santarém e o de Tomar.
Segundo os dados divulgados pela DGES, reportados a 31/12/2009, INDEZ2009, o Instituto Politécnico de Santarém, com 318 docentes, tem mais docentes do que a Universidade da Madeira. Inversa é a qualificação académica dos copos docentes, registando o Instituto Politécnico da Santarém 57 doutorados e a Universidade da Madeira, com 222 docentes, 131 doutorados.
A remuneração auferida, em 2009, pelos funcionários (docentes e não docentes), remunerados pelo Orçamento de Estado, na Universidade da Madeira foi de 10,3 milhões de euros e no Instituto Politécnico de Santarém de 11,2 milhões de euros.
Padrão idêntico de funcionamento regista o Instituto Politécnico de Tomar que, com 248 docentes, averba 37 doutorados e em que a remuneração auferida, em 2009, pelos funcionários foi de 10,6 milhões de euros.
Em suma, no Distrito de Santarém o ensino superior politécnico público, em 31/12/2009, somava 566 docentes dos quais 94 doutorados, e dispendeu do Orçamento de Estado, no ano de 2009, com remunerações a funcionários, 21,8 milhões de euros.
Ou seja, em 2009, no Distrito de Santarém com 2 Institutos Politécnicos o Orçamento de Estado em remunerações a funcionários despendeu mais do que despenderia com DUAS Universidades equivalentes à Universidade da Madeira…
Ou, dito ainda de outro modo, quase tanto quanto os 28,4 milhões de euros gastos, em 2009, do Orçamento de Estado com remunerações a funcionários pela Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, que em 31/12/2009 registava 530 docentes - dos quais 350 doutorados.
O índice de (in)satisfação da procura no acesso ao ensino superior, que afere o rácio entre o número de preferências em 1ª opção e o número de vagas disponíveis, em 2000 e 2009 decaiu no Instituto Politécnico da Santarém de 0,82 para 0,46, e no Instituto Politécnico de Tomar de 0,92 para 0,29 (Tabela 43, página 73, “DEZ ANOS DE ENSINO SUPERIOR: 2000-2009”, DGES, Junho de 2010).
Em 2011, o resultado da 1.ª fase de candidatura ao ensino superior nos Institutos Politécnicos de Santarém e de Tomar não foi propriamente uma surpresa: 25 cursos tiveram menos de 10 alunos.
Nem mesmo que 2 cursos tenham tido 0 alunos; 1 curso, 1 aluno; 9 cursos 2 alunos…
Nem ainda que 75 por cento das vagas, nesta 1ª fase, tenham ficado por preencher no Instituto Politécnico de Tomar.
Aliás, em 2010, nesta mesma 1.ª fase, estes dois Institutos Politécnicos tiveram 4 cursos com 0 candidatos, 3 cursos com 1 candidato, 4 cursos com 2 candidatos, 3 cursos com 3 candidatos, 5 cursos com 4 candidatos, 2 cursos com 5 candidatos, 1 curso com 6 candidatos, 4 cursos com 7 candidatos e 2 cursos com 9 candidatos. O que perfaz 28 cursos (em regime diurno e pós-laboral) com menos de 10 candidatos.
Não surpreendeu pois a posição adoptada pelo Presidente do Instituto Politécnico de Tomar, Sr. Prof. Eugénio de Almeida, “…que a ligeira redução do número de alunos não coloca em causa o funcionamento da instituição, nem sequer nos deixa desconfortáveis.” (O Ribatejo, edição de 22/9/2011, artigo “Instituto Politécnico de Tomar 500 vagas ficaram por preencher”, p. 5).
Quando a oferta educativa do ensino superior politécnico público se traduz em licenciaturas, mestrados e doutoramentos, a distinção entre o ensino politécnico e o universitário radica na qualificação académica dos respectivos copos docentes, qualificação esta que necessariamente se reflecte no conhecimento produzido, transmitido e difundido pelas instituições de ensino superior a que esses corpos dão suporte, surpreende de alguma forma que o Ministro da Educação, Sr. Prof. Nuno Crato, esteja a asfixiar financeiramente Universidades públicas de referência, como as de Lisboa e de Coimbra, para manter o ensino superior politécnico público que não se qualificou academicamente, e cuja procura é cada vez mais reduzida.
Opção deste Governo. Aliás, já intuída com a inauguração, em 24/5/2013, pelo Sr. Ministro da Educação das instalações da Escola Superior de Desporto de Rio Maior.
Enviar um comentário