sábado, 3 de agosto de 2013

O EQUÍVOCO DOS CUSTOS DA SAÚDE

Uma auditoria do Tribunal de Contas, concluiu que “a insustentabilidade económico-financeira do Serviço Nacional de Saúde se acentuou” em 2011, face aos dois anos anteriores.
Considerando a degradação da situação financeira o Tribunal de Contas recomenda aos ministros das Finanças e da Saúde a elaboração de “um plano que garanta a sustentabilidade da prestação de cuidados de saúde à população no médio e longo prazo”.
A este propósito, os custos da saúde, recordo um Relatório da OCDE, divulgado em Fevereiro, “Health Spending Growth at Zero – Wich Countries, which sectors are most affected?” com alguns dados interessantes. O Governo português cortou o dobro do que estava definido no negócio acordado com a Troika. As contas portuguesas do sector da saúde terão caído em 2011 5,2% face a 2010, a média de toda a OCDE foi um crescimento de 0,7%. Para 2013 a saúde terá 5,1% do PIB, a média da zona euro será de 7%. Os gastos em saúde por habitante são 2196€, a média nos países da OCDE é de 2631 € e nos EUA de 6629 €.
Estes dados são elucidativos da política de cortes, custe o que custar e que agora se acentuam.
O mesmo relatório alerta para os impactos a prazo, sobretudo quando se atravessa um período alargado de perdas muito significativas do rendimento disponível das famílias. Aliás, é importante referir que, ainda de acordo com a OCDE, em 2010, já bem dentro do quadro de dificuldades, os portugueses continuavam a ser dos que mais pagam directamente do seu bolso despesas com saúde, 26% face aos 20,1% da média dos 34 países da OCDE.
Estes dados, apesar de desmentidos pelo Ministério da Saúde, parecem-me extremamente importantes no âmbito da discussão sobre a reforma do estado e das suas funções.
Na verdade, quando tanto se questiona os fundamentos do estado social e o peso destas funções no OGE, parece razoavelmente claro que Portugal tem, no sector da saúde mas não só, um peso inferior ao de outros países.
Quando sempre que se decidem cortes, a saúde, tal como outras áreas sociais, são alvos privilegiados, os dados do Relatório da OCDE sustentariam outro caminho que também a auditoria do Tribunal de Contas aponta.
Embora seja importante ponderar a organização, eficácia e custos do chamado estado social, por exemplo na saúde, é fundamental perceber e entender que a comunidade tem sempre a responsabilidade ética de garantir a acessibilidade de toda a gente aos cuidados básicos de saúde. Os tempos que atravessamos criando obstáculos ao acesso aos serviços de saúde a que se acrescentam as dificuldades criadas aos próprios serviços no sentido garantirem o cumprimento da sua missão são ameaçadores dos padrões mínimos de bem-estar e qualidade da assistência em matéria de saúde.
Como afirma Michael Marmot, que há meses esteve em Portugal, todas as políticas podem, ou devem, ser avaliadas pelos seus impactos na saúde.
Talvez a ideia do "custe o que custar" seja de repensar, pela nossa saúde.

1 comentário:

não sei quem sou... disse...

A minha admiração vai direitinha para os valores gastos nos EUA. Pensava (a pensar morreu um burro) que o país dos camones era quem menos investia na saúde do respectivo sistema.

Quanto á situação em Portugal qual a admiração ?! Temos capatazes mais TROIKIANOS que a própria TROIKA.

E ainda a procissão ainda vai no adro...


VIVA!