Uma auditoria do Tribunal de Contas, concluiu que
“a insustentabilidade económico-financeira do Serviço Nacional de Saúde
se acentuou” em 2011, face aos dois anos anteriores.
Considerando a degradação da situação financeira o
Tribunal de Contas recomenda aos ministros das Finanças e da Saúde a elaboração
de “um plano que garanta a sustentabilidade da prestação de cuidados de saúde à
população no médio e longo prazo”.
A este propósito, os custos da saúde, recordo um
Relatório da OCDE, divulgado em Fevereiro, “Health Spending Growth at Zero –
Wich Countries, which sectors are most affected?” com alguns dados
interessantes. O Governo português cortou o dobro do que estava definido no
negócio acordado com a Troika. As contas portuguesas do sector da saúde terão
caído em 2011 5,2% face a 2010, a média de toda a OCDE foi um crescimento de
0,7%. Para 2013 a saúde terá 5,1% do PIB, a média da zona euro será de 7%. Os
gastos em saúde por habitante são 2196€, a média nos países da OCDE é de 2631 €
e nos EUA de 6629 €.
Estes dados são elucidativos da política de
cortes, custe o que custar e que agora se acentuam.
O mesmo relatório alerta para os impactos a
prazo, sobretudo quando se atravessa um período alargado de perdas muito
significativas do rendimento disponível das famílias. Aliás, é importante
referir que, ainda de acordo com a OCDE, em 2010, já bem dentro do quadro de
dificuldades, os portugueses continuavam a ser dos que mais pagam directamente
do seu bolso despesas com saúde, 26% face aos 20,1% da média dos 34 países da
OCDE.
Estes dados, apesar de desmentidos pelo
Ministério da Saúde, parecem-me extremamente importantes no âmbito da discussão
sobre a reforma do estado e das suas funções.
Na verdade, quando tanto se questiona os fundamentos
do estado social e o peso destas funções no OGE, parece razoavelmente claro que
Portugal tem, no sector da saúde mas não só, um peso inferior ao de outros
países.
Quando sempre que se decidem cortes, a saúde, tal
como outras áreas sociais, são alvos privilegiados, os dados do Relatório da
OCDE sustentariam outro caminho que também a auditoria do Tribunal de Contas
aponta.
Embora seja importante ponderar a organização,
eficácia e custos do chamado estado social, por exemplo na saúde, é fundamental
perceber e entender que a comunidade tem sempre a responsabilidade ética de
garantir a acessibilidade de toda a gente aos cuidados básicos de saúde. Os
tempos que atravessamos criando obstáculos ao acesso aos serviços de saúde a
que se acrescentam as dificuldades criadas aos próprios serviços no sentido
garantirem o cumprimento da sua missão são ameaçadores dos padrões mínimos de bem-estar
e qualidade da assistência em matéria de saúde.
Como afirma Michael Marmot, que há meses esteve
em Portugal, todas as políticas podem, ou devem, ser avaliadas pelos seus
impactos na saúde.
Talvez a ideia do "custe o que custar"
seja de repensar, pela nossa saúde.
1 comentário:
A minha admiração vai direitinha para os valores gastos nos EUA. Pensava (a pensar morreu um burro) que o país dos camones era quem menos investia na saúde do respectivo sistema.
Quanto á situação em Portugal qual a admiração ?! Temos capatazes mais TROIKIANOS que a própria TROIKA.
E ainda a procissão ainda vai no adro...
VIVA!
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