Todo o mundo é composto de mudança, tomando sempre novas qualidades, dizia Camões.
Quando era miúdo, na minha terra, como em todas as terras, havia vizinhos, às vezes, mais da família que a família. Estas relações de vizinhança eram a base da vida da comunidade. Ajudavam nos problemas, partilhavam as alegrias, faziam companhia na solidão. Muitas vezes, nem lhes chamávamos pelos seus nomes, eram só vizinhos e vizinhas. Eram tudo.
Hoje, as pessoas vivem mais juntas mas mais sós, o vizinho é apenas o tipo do andar de cima que troca, quando troca, um envergonhado bom-dia no elevador. Continuo a não o chamar pelo nome, nem sequer sei qual é, mas também não é o vizinho, é apenas o tipo do andar de cima.
No Público, alguns especialistas, ouvidos sobre os efeitos que a actual situação de dificuldades pode ter nos nossos estilos de vida, adiantam, entre muitos outros aspectos, a probabilidade de se retomarem formas de comportamento mais comunitários, retomando, por exemplo, as relações de vizinhança.
Acabo como comecei, com Camões. Apesar do preço enorme que estamos a pagar por estes tempos, uns mais que outros como é evidente, se o mundo tomasse essas novas qualidades, a vizinhança, ficaria certamente um mundo melhor.
1 comentário:
é isso mesmo, vivemos num mundo do faz de conta e as pessoas só pensam em si próprias, por isso se queixam de solidão e muitas delas nem sequer um bom dia ouvem ou dão.
Portugal tem tudo para que as pessoas sorriam, o nosso sol as nossas paisagens deveria fazer com que nos sentissemos orgulhosos.
A crise é de valores humanos e essa não tem saida, temos uma vida tão curta e não a sabemos aproveitar e viver.
Talvez com menos bens materiais vamos dar mais valor às coisas realmente importantes
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