quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

MESTRE EM GESTÃO INTEGRADA DE RELVADOS DESPORTIVOS E ORNAMENTAIS (ver nota)

O ensino superior em Portugal é, como muitíssimas outras áreas, cenário de equívocos e de decisões políticas nem sempre claras. Uma das grandes dificuldades que enfrenta prende-se com a demissão durante muito tempo de uma função reguladora da tutela que, sem ferir a autonomia universitária, deveria minimizar o completo enviesamento da oferta, pública e privada, que se verifica. Um país com a nossa dimensão não suporta tantos estabelecimentos de ensino superior, sobretudo, se atentarmos na qualidade. As regiões e autarquias reclamam ensino superior com a maior das ligeirezas. Durante algum tempo, a pressão vinda da procura e a incapacidade de resposta do subsistema de ensino superior público associada à demissão da tutela da sua função reguladora, promoveu o crescimento exponencial do ensino superior com situações que, frequentemente, parecem incompreensíveis à luz de um mínimo de racionalidade e qualidade. Portugal contará, segundo a informação disponível, com cerca de 160 instituições de ensino superior e como indicador relativo pode referir-se um rácio de 17,4 estabelecimentos por milhão de habitantes, enquanto a Espanha apresenta 7, um dado extraordinário.
Nesta matéria, a qualidade e o redimensionamento da rede, espera-se que o processo em curso de Avaliação e Acreditação se revele um forte contributo. Segundo dados hoje divulgados no Público em 2009 e 2010 encerraram 737 cursos sendo que 373 o fizeram por não receberem um único aluno inscrito. Uma consulta que realizei há algum tempo na oferta de licenciaturas e mestrados por parte do ensino superior mostra como imperiosa se torna a racionalização dessa oferta. Como afirmou há algum tempo o Professor Alberto Amaral, o presidente da A3ES, “Portugal tem excelentes cursos mas criou-se imenso lixo no ensino superior”. Deixo alguns exemplos interessantes de designação de cursos de mestrado em estabelecimentos de ensino superior público, tal e qual se encontrava no sítio do Ministério. Vejamos, Políticas de Bem Estar em Perspectiva: Evolução Conceito e Actores; Fruticultura Integrada; Design do Produto; Marketing Relacional; Negócios Internacionais; Resolução Alternativa de Litígios; Empreendedorismo; Biorremediação; Aconselhamento e Informação em Farmácia; Ciências da Complexidade; Estudos Sociais da Ciência; Gestão de Mercados de Arte; Instituições e Justiça Social, Gestão e Desenvolvimento; Novas Fronteiras do Direito; Branding e Design de Moda; Estudos Regionais e Locais; Design e Desenvolvimento de Fármacos; Alimentação - Fontes, Cultura e Sociedade; Ciências da Paisagem; Psicomotrocidade Relacional; Anatomia Artística; Gestão Integrada de Relvados Desportivos e Ornamentais; Geomática Ambiental; Comunicação de Moda; Comunicação e Desporto; Ciências Gastronómicas; As Humanidades na Europa: Convergências e Aberturas; Metropolização, Planeamento Estratégico e Sustentabilidade; Gestão de Pessoas.
Embora entenda que a oferta formativa de qualificação superior não deva ser liderada pelo mercado, longe disso, também não o pode esquecer. Existem cursos que apesar de alguma menor empregabilidade se inscrevem em áreas científicas de que não podemos prescindir com o fundamento exclusivo da empregabilidade, aparente ou real. Podemos dar como exemplo formações na área da filosofia ou nichos de investigação que são imprescindíveis num tecido universitário moderno. Será também importante que o processo permita desenvolver e incentive modelos de cooperação, universitário e politécnico, público e privado, que potencie sinergias, investimentos e massa crítica que promovam a imprescindível reorganização da rede.
O enviesamento da oferta de que acima falava, alimenta a formação em áreas menos necessárias e não promove a formação em áreas carenciadas. Tal facto, conjugado com o reconhecido sobredimensionamento da rede, com o baixo nível de desenvolvimento do país e com uma opinião publicada pouco cuidadosa na informação, leva a que se tenha instalado o equívoco dos licenciados a mais e destinados ao desemprego, quando continuamos a ser um dos países da UE com menos licenciados, já o disse aqui muitas vezes.
Precisamos que, com lucidez e coragem por parte da tutela e das instituições, que se repensem os caminhos do ensino superior em Portugal.

Nota - Considerando que o título que originalmente coloquei neste texto, "Mestre em Ciências da Complexidade" desencadeou uma interpretação que eu não lhe atribuí, socorri-me da ideia de "complexidade" dada a dificuldade de escolha face ao volume da oferta e da designação de muitos cursos, alterei o título. Insisto que não estáem causa um juízo de valor sobre conteúdos científicos de nenhuma área mas sim a organização e dispersão da oferta formativa num ciclo de estudos, mestrado, que, actualmente, é quase formação inicial.

3 comentários:

Manuel Duarte disse...

Isto é que se chama azar ou falta de cuidado! Entre os 340 títulos à sua disposição, você foi logo escolher um dos piores possíveis. Se não tem ciência do que se entende por complexidade e o quanto o seu estudo é válido, sugiro-lhe uma visita a uma instituição que vive dos contratos com grandes companhias e doações http://www.santafe.edu/ e um livrinho para aprender alguma coisa sobre complexidade "The quark and the Jaguar".

Para a próxima tenha mais cuidado...

Zé Morgado disse...

Caro Manuel,
A minha questão não é o conteúdo científico, como poderá ter reparado, defendo a existência de todas as áreas e entendo que o superio não deve andar a reboque do mercado. Só escolhi, e como disse, posso não ter ido cuidadoso, esta designação pela forma como um aluno está informado para entre muitas centenas de cursos escolher de forma racional, por exemplo, um mestrado em Ciências da Complexidade, apenas isso, não contém qualquer juízo de valor. Eu próprio me movo numa área científica sem grande visibilidade da qual gosto muito e entendo como pertinente.

Agradeço o seu comentário e a informação disponibilizada.

Anónimo disse...

Tive o cuidado de ir ao site da Santa Fe Institute e vê-se que é uma coisa séria e com nível.

já agora deixo outro site: http://astral.sapo.pt/

Tenha cuidado como Jaguar, está mal estacionado.

Abraço
António Caroço