O Público de hoje dedica uma peça ao resultado das provas aferidas de 4º e 6º ano de Português e Matemática. Em síntese telegráfica e relativamente a 2010, os resultados desceram em Matemática de 62% para 58% no 6º ano e de 71% para 68% no 6º. Em Português, os resultados mantiveram-se no 6º, 65%, e desceram no 4º, de 70 para 69%, variação pouco significativa. Parece também concluir-se pela existência de maiores dificuldades na escrita e nas tarefas que solicitem mais análise, raciocínio e sentido crítico, como referiu a Associação de Professores de Matemática.
Os resultados, apesar de algumas variações, continuam a evidenciar as fragilidades das competências dos nossos alunos em ferramentas essenciais da aprendizagem, língua portuguesa e educação matemática.
Lamentavelmente não é uma questão nova e para além de algumas iniciativas do Ministério, como o Plano Nacional de Leitura ou o Plano de Acção para a Matemática, as escolas tentam através de dispositivos de apoio próprios minimizar as dificuldades de muitos alunos. Dado o volume de dificuldades e os recursos das escolas, estas iniciativas acabam, necessariamente, por ter como destinatários menos alunos do que o necessário.
A este propósito e também por outras razões, tenho com alguma frequência expresso a urgente necessidade de ajustamentos sérios nos conteúdos e organização curricular. Embora já esteja decidido o reforço dos tempos de trabalho em Português e Matemática a reorganização e revisão dos conteúdos curriculares continuam necessárias.
Por outro lado, parece-me que os resultados poderão traduzir o que costumo designar por excessiva ”manualização” do ensino o que sustenta, considerando, as características de muitos dos manuais, que sejam menos estimuladas as capacidades de escrita e as de resolução de problemas, lógica e espírito crítico.
Finalmente, uma nota sobre as próprias provas. As provas aferidas, cito uma nota antiga do Ministério, “não contam para nota, (...) servem para professores, estabelecimentos de ensino e Ministério da Educação perceberem o que está a falhar, ou não, em termos de competências”, estando, portanto, em jogo não só a avaliação dos alunos, mas também professores, escolas e Ministério. Compreende-se, qualquer dispositivo de avaliação no interior de um sistema, implica de alguma forma os diferentes elementos desse sistema porque … é um sistema.
No entanto, do meu ponto de vista e relativamente às provas aferidas, parece ainda necessário clarificar aspectos como: As provas avaliam exactamente o quê? A administração educativa crê que são “os objectivos e as competências essenciais de cada ciclo”. Será? Tratando-se de anos transição de ciclo e de resultados individuais o que fará cada professor, cada escola, com os resultados de alunos que já não acompanham? Será que alguma escola ou cada professor se surpreenderá com os resultados, bons ou maus, dos seus alunos? Se acontecer é porque não os conhece e, então, não há prova de aferição que lhes valha. Que farão pois com os dados?
E o Ministério, que vai fazer com estes resultados? Ao que diz o Público, a Secretária de Estado, Isabel Leite terá dado instruções ao GAVE no sentido de que as provas nacionais “não devem incluir questões demasiado simples para o nível de escolaridade em causa”. O jornal não conseguiu obter esclarecimento sobre esta orientação que, convenhamos, é curta.
Para o ano há mais. Do mesmo?
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