Este pessoal não entende mesmo, ou não quer entender, o que está em causa. O Ministro Miguel Relvas retoma hoje, lê-se no Público, o tema da emigração, desta vez e do meu ponto de vista, de forma mais espantosa, dirige o seu conselho aos jovens qualificados, “ide procurar fora de portas o vosso futuro”. Curiosamente, num efeito de clone não surpreendente entre estas duas personagens, tal como o Primeiro-ministro quando se referiu aos professores sem emprego em Portugal, também Miguel Relvas parece interessado em agenciar a ida de portugueses para os países lusófonos.
Parece-me relativamente claro que a questão central não é o movimento que desde há muito os portugueses realizam de procurar trabalho fora do país. Como é óbvio as pessoas, cada pessoa, procurará dentro das suas disponibilidades, capacidades e motivações construir um projecto de vida em que se realize e esse projecto de vida pode, evidentemente, passar por emigrar. Sabemos e isso é desejável em diferentes perspectivas que estes fluxos se realizem, mas esta não é a questão central.
A questão central é que um Primeiro-ministro ou outro governante não pode assumir que a solução para os problemas das pessoas, por exemplo o desemprego, é abandonar o país. Um governante de um país com sérias necessidades de mão-de-obra qualificada, um dos mais baixos níveis de qualificação da Europa e um dos grandes obstáculos ao nosso desenvolvimento, não pode acenar com a “sugestão” de emigração exactamente para franja mais qualificada da nossa população, é um discurso absolutamente inaceitável.
Este discurso vindo de quem lidera e de quem a comunidade espera, é a sua função, um contributo decisivo para atenuar ou, em tese, resolver os problemas do país, transmite incompetência, impotência e finalmente desistência face a esses problemas.
Ora, incompetência, impotência e desistência é tudo o que um primeiro-ministro ou qualquer pessoa com funções de liderança não pode evidenciar.
Vão de novo surgir as vozes que falam do realismo destes discursos, das efectivas poucas oportunidade de trabalho para muitos jovens qualificados, mas, insisto, “mandar” essa gente embora de um país como o nosso é delinquência política. Lamentavelmente, não estranho.
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