Estamos num tempo, felizmente, em que as comunidades, de uma forma geral, organizaram, regularam e procuram observar um conjunto de normas e orientações em torno da fórmula "superior interesse da criança". Tal movimento, estimulado sobretudo pela adopção generalizada de uma Declaração dos Direitos da Criança em 1959 e da Convenção sobre os Direitos da Criança em 1989, tem vindo a traduzir-se por políticas activas ainda que nem sempre eficazes de protecção dos miúdos nas várias dimensões da sua vida.
Apesar desta protecção legalmente e institucionalmente definida não funcionar, como disse, com a qualidade e eficácia desejadas, vai sendo tempo de nos voltarmos para um outro universo menos referido, menos considerado por maior discrição, mas de semelhante resultado, mau resultado. Refiro-me à forma como, sem resvalar para comportamentos susceptíveis de se considerar delinquentes ou tão graves que mereçam sanção social além da legal, algumas crianças e adolescentes são tratadas pelas instituições que pela sua natureza, daí o título, não deveriam ser maltratantes, a família ou a escola.
Estas notas ocorreram-me a propósito da história que um dia uma professora, das Grandes, me contou. Um miúdo à entrada da adolescência e com uma quotidiano de dificuldades e problemas na escola onde andava, confessava entre o perplexo e a impotência resignada qualquer coisa como, "não sei o que esta escola me fez, eu dantes era um bom menino".
Não, não tenho nenhuma visão idealizada da criança. Na verdade, em muitas situações, figuras de quem se espera bons tratos pela função desempenhada, pais, mães, professores, fazem mal aos miúdos, estragam-nos, não por delinquência, mas por incompetência e desatenção.
Este tipo de situações que passa, a título de exemplo, por tratamento igual na escola a miúdos que pela sua diferença não suportam a igualdade do tratamento e são abandonados, aos miúdos que não encontram, por várias razões, um céu protector na relação familiar o que os deixa perdidos sem um GPS orientador dos afectos, não são do meu ponto de vista, considerados com suficiente atenção.
Fica sempre mais fácil entender que quando as coisas não correm bem algo está errado com os miúdos. Não é muito fácil aceitar que pais, mães ou professores fazem mal aos miúdos, desde que não firam disposições legais e mesmo assim, por vezes ainda se ouve um desresponsabilizante "é para bem dele(a)".
É contra natura, os bons nunca podem ser maus. Às vezes são.
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