É um fenómeno sazonal. Em épocas de exames como a que agora se vive no ensino superior, aparecem referências ao consumo de substâncias que supostamente ajudam a aumentar o desempenho escolar, combatendo o cansaço e estimulando a capacidade intelectual, a capacidade de atenção e concentração, enfim, "garantem" o sucesso escolar. Alguns estudos evidenciam o aumento deste consumo nos últimos anos.
O DN de hoje apresenta um extenso e interessante trabalho sobre esta questão referindo a opinião de estudantes e profissionais. A peça sugere-me algumas notas.
Em primeiro lugar, a pressão para o desempenho que está presente em variadíssimas áreas, para além do desporto, situação mais conhecida. A título de exemplo, há algum tempo noticiava-se o aumento de consumo de Viagra misturado com outros compostos químicos para garantir a performance sexual entre os mais jovens o que, aliás, é uma mistura altamente arriscada em termos de saúde.
Por outro lado, são também conhecidos os excessos no consumo de álcool entre os adolescentes que entre si não aceitam facilmente ter um desempenho "inferior" ou medíocre em situações de grupo, "não se dá parte de fraco", como se dizia no meu tempo.
A esta pressão para o "alto rendimento" acresce a facilidade de acesso aos medicamentos e a atitude de automedicação que nos leva a sermos um dos países em que este comportamento mais prevalece e em que se consomem mais psico-fármacos.
Finalmente, uma atitude genérica face ao trabalho, neste caso, o trabalho escolar, que nos faz remeter para a véspera o que deveria ser realizado de forma mais regular e espaçada no tempo. Tal facto, aumenta a sobrecarga e a pressão em curtos períodos de tempo que solicita então uma "ajudinha milagrosa" que algum colega sempre sugere e sempre se consegue.
O "doping mental" não é, assim, um problema dos estudantes, é, apenas, uma das muitas faces daquilo que são os nossos estilos de vida que, estes sim, deveriam merecer alguma atenção, designadamente nos programas educativos.
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