terça-feira, 3 de janeiro de 2012

TUDO SE VENDE, TUDO SE COMPRA. Até as pessoas

No JN de hoje é referido o alerta do Sindicato da Construção de Portugal para a existência de "redes mafiosas" que contratam trabalhadores portugueses para trabalho no estrangeiro onde são sujeitos a condições de trabalho que configuram escravatura. Numa altura e que, por razões óbvias aumentam os fluxos de emigração esta questão é importante. Sublinha-se ainda que entre os países referidos no alerta do sindicato se incluem França, Alemanha e Inglaterra.
É também conhecida a recorrente situação de trabalhadores portugueses explorados como escravos em trabalho agrícola realizado em Espanha.
Este universo, o tráfico e exploração de seres humanos é, do meu ponto de vista, uma das questões que maior embaraço pode causar em sociedades actuais, algo de improvável no séc. XXI em países da Europa Ocidental.
Como em todas as situações desta natureza, as autoridades estimam que os casos conhecidos sejam em número bastante inferior ao que na verdade se verifica. Sabemos também como no mundo inteiro o tráfico de pessoas se constitui como uma das áreas de mercado mais rentáveis, designadamente, no caso de mulheres para o universo da prostituição.
No entanto, a escravatura para trabalho agrícola ou de outra natureza, parece algo “fora do tempo” e de impossível existência nos nossos países. Mas existe, e é sério o problema que, como não podia deixar de ser, atinge os mais vulneráveis.
Este negócio, o tráfico de pessoas, um dos mais florescentes e rentáveis em termos mundiais, alimenta-se da vulnerabilidade social, da pobreza e da exclusão o que, como sempre, recoloca a imperiosa necessidade de repensar modelos de desenvolvimento económico que promovam, de facto, o combate à pobreza e, caso evidente em Portugal, às escandalosas assimetrias na distribuição da riqueza.
As circunstâncias que atravessamos potenciam o risco e a vulnerabilidade, aliás, há poucos dias referia-se na imprensa o aumento da prostituição envolvendo mulheres em extrema dificuldade para assegurar meios de subsistência familiar.
As pessoas, muitas pessoas, apenas possuem como bem, a sua própria pessoa e o mercado aproveita tudo, por isso, compra e vende as pessoas dando-lhe a utilidade que as circunstâncias, a idade, e as necessidades de "consumo" exigirem.
O que parece ainda mais inquietante é o manto de silêncio e negligência que cai sobre este drama tornando transparentes as situações, não as vemos.

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