O Ministro Nuno Crato referiu-se hoje, de novo, à questão da revisão curricular e à sua necessidade. Afirmou o Ministro que Portugal é “o campeão da dispersão curricular”, mostrando que no 2º ciclo 18 % do tempo é usado em actividades não curriculares e no 3ºciclo essa percentagem é de 15%. Afirmou também, na linha do que tem vindo anunciado, que essas áreas não curriculares irão desaparecer na totalidade a partir do próximo lectivo.
Defendo de há muito a imperiosa necessidade de se proceder a uma séria revisão da organização e conteúdos curriculares.
Para além dum aspecto que me parece importante, um primeiro ciclo com seis anos que providenciasse, numa lógica de ciclo, os saberes e as ferramentas de base, entendo como relevante sublinhar que o número de disciplinas e a extensão e natureza dos conteúdos curriculares se associam a algumas das questões mais frágeis do sistema educativo, designadamente no 3º ciclo, insucesso escolar, absentismo e indisciplina, tudo dimensões fortemente ligadas aos níveis de motivação e funcionalidade percebida dos conteúdos curriculares e que decorrem em muito da sua dispersão e da natureza fechada e, por vezes, desajustada dos conteúdos.
A lógica da "disciplinarização" excessiva dos saberes tem informado o sistema educativo mas também o sistema de formação de professores durante demasiado tempo, o que suporta esta “disciplinarização” sem sentido, demasiadas disciplinas para 25,5 horas de aulas no 3º ciclo. É, aliás, curioso notar, se bem estivermos atentos, a frequência com que a propósito de qualquer saber, se defende a existência de mais uma disciplina. Neste contexto, cresceu até ao insuportável o número de disciplinas designadamente no 3º ciclo provocando a “dispersão curricular" de que fala o Ministro Nuno Crato. É de prever, a experiência mostra-o, que surgirão reacções que habitualmente considero como uma espécie de corporativismo científico, ou seja, discursos ambíguos sobre a necessidade de alterar as disciplinas "desde que não seja a minha", alimentando a pressão para que não se altere um modelo excessivamente disciplinarizado.
Assim sendo, aguardo com alguma expectativa o pensamento do Ministro sobre esta questão que, não pode, não deve ficar apenas pela retirada das áreas não curriculares como medida de fundo. Tratar-se-ia de mais uma oportunidade perdida numa mudança que tarda.
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