Existem questões que exigem uma atenção permanente e nunca será demais o tempo e atenção que a elas possamos dedicar. Nas sociedades actuais, a violência entre jovens é uma dessas questões. Há poucos dias referi-me a esta questão a propósito da suspensão, por parte do MEC do Observatório da Segurança em Meio Escolar, por coincidência, na mesma altura em que a APAV lança uma campanha de prevenção da violência entre jovens "Corta com a Violência. Quem não te respeita, não te merece". O Público de hoje retoma esta questão e creio que vale a pena insistir em algumas notas.
Comportamentos de violência, de bullying em termos mais gerais, em contexto escolar são tão antigos quanto a instituição escolar, sendo certo, no entanto, que a designação é recente e o estudo do fenómeno também. A violência jovens fora do contexto escolar também está longe de ser um fenómeno novo. Actualmente, é também mais objecto de referências fora dos contextos educativos pois o volume e a gravidade de algumas situações, bem como a divulgação dos estudos e alguma mediatização verificada, colocaram este problema na agenda.
Em vários estudos constata-se que os adolescentes tendem encarar a violência entre si como normal como aliás se refere no trabalho o Público. Creio que é inquietante mas não pode ser surpreendente. A escola, desde sempre, espelha as realidades sociais e o quadro de valores prevalecente nos contextos que serve. A sociedade da informação e os sistemas de valores actuais banalizaram a violência, não são os adolescentes que a banalizaram. A violência é objecto de jogos de vídeo e computadores, é passatempo de claques e grupos, entra a qualquer hora pelas nossas casas dentro. O estudo da Universidade do Minho sobre a relação entre jovens namorados, também citado na peça e que também aqui já referi, mostra um nível altíssimo de violência na relação. É neste quadro que a campanha da APAV e outro tipo de iniciativas no âmbito da prevenção fazem sentido e se justificam e a ausência que se perspectiva de uma abordagem às questões de cidadania e vida cívica nos conteúdos curriculares parece algo de negativo, como também sublinha João Sebastião.
Por outro lado, a escola, por ser o espaço onde os adolescentes passam a maior parte do seu tempo é, naturalmente, o espaço onde emergem e se tornam visíveis os problemas e inquietações que carregam. No entanto, não é possível considerar-se que a escola é mágica e omnipotente pelo que tudo resolverá. Tudo pode envolver a escola, mas nem tudo é da exclusiva responsabilidade da escola.
Apesar disso, creio que na escola, para além de muitíssimos outros aspectos, a violência entre jovens é um fenómeno complexo, existem duas questões que me parecem essenciais e contributivas para lidar com a situação. Em primeiro lugar é importante criar nos alunos vitimizados a convicção de que se podem queixar e denunciar as situações. Os directores de turma, figura central nas escolas mas com um papel muitas vezes negligenciado, teriam aqui um trabalho fundamental, podem definir-se canais e dispositivos de apoio que garantam a protecção da vítima pois o medo de represálias é o principal motivo da não apresentação da queixa e ainda detectar junto dos seus alunos sinais que indiciem vitimização. Em segundo lugar, é preciso contrariar no limite do possível a ideia de impunidade, de que não acontece nada ao agressor. As escolas podem assumir atitudes, discursos e montar dispositivos que, visivelmente, dêem aos alunos um sinal de que não existe tolerância para determinados comportamentos.
A violência e o bullying entre adolescentes em contextos escolares ou na comunidade não serão, provavelmente, eliminados, mas poderão, acredito, ser minimizados, mas não só pela actuação da escola.
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