É o mercado, estúpido, pensei para comigo, face à notícia de descontos promovidos por um grupo privado da área da saúde no acesso a alguns dos serviços que presta, designadamente em urgências.
À primeira reacção é de alguma perplexidade e de dúvidas. Na notícia do Público sobre esta matéria, um especialista da concorrência coloca até a legitimidade ética de promoção de descontos na área da saúde. A referência à ética nos tempos que correm em Portugal provocou-me um sorriso entre o amarelo e o amargo. Os promotores defendem-se com a solidariedade e o apoio às famílias portuguesas num momento difícil, cheio de dificuldades, a seguir à época natalícia e numa época atreita a gripes e constipações, outro sorriso amargo. Referem ainda que concorrem com os custos do SNS, agora bem mais altos com o aumento das taxas moderadoras. Os especialistas da saúde afirmam que esta iniciativa mantém a situação de que quem pode pagar o acesso a privado lá irá e quem tem urgências a sério irá a um hospital público, nada de novo, portanto.
A concorrência não prevê realizar iniciativas semelhantes até porque os seus resultados não o justificam, a procura continua a aumentar pelo que não há razão para baixar o custo da oferta.
E é assim, é o mercado a funcionar. É claro que se a coisa se complicar as iniciativas generalizam-se e aumentam, como se costuma dizer, a agressividade. Então teremos descontos e promoções a sério, "Num internamento de três dias, oferecemos-lhe o terceiro", "Por cada TAC, oferecemos-lhe uma radiografia à escolha", "Por cada três consultas de especialidade, oferecemos-lhe uma quarta consulta da especialidade que desejar", etc., etc.
É o mercado e a saúde é um excelente mercado. Acresce a que a política actual vai torná-lo ainda um mercado mais atractivo.
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