"Férias mais curtas, bancos de horas e gestão de pontes mais flexíveis, mas sem a meia hora extra de trabalho que o Governo pretendia. Estas são em síntese as bases de um acordo tripartido fechado na madrugada". Esta a síntese feita no Público sobre o acordo assinado entre Governo e parceiros sociais, à excepção da CGTP, sob a forma de Concertação Social.
Este enunciado parece traduzir o entendimento que não é novo de que o tempo de trabalho será a alavanca do desenvolvimento, da produtividade, da competitividade, o jargão do costume.
Tal como ontem afirmei ao comentar a divulgação da informação de que os portugueses têm o terceiro maior tempo de trabalho da Europa embora com níveis de produtividade mais baixos, tenho a maior das dúvidas de que o "simples" aumento das horas de trabalho tenha reflexos significativos na economia.
Relembro que os estudos evidenciam importância fundamental de factores como a organização do trabalho, a qualificação dos trabalhadores, a modernização e qualificação da gestão, organização e funcionamento de empresas, sobretudo do tecido das médias, pequenas e micro empresas que, assegurando a fatia maior do emprego, são geridas por empregadores com baixas qualificações, com altos custos de ineficácia e desperdício.
O aumento do tempo de trabalho sem mudanças significativas nas outras dimensões, poderá conduzir a uma "proletarização" da economia na medida em que a sua competitividade assentará, sobretudo, no abaixamento dos custos do trabalho.
Este caminho parece perigoso e apesar do acordo ter sido assinado ao abrigo da Concertação Social, creio que aponta mais no sentido da desconcertação social e empobrecimento. Este rumo já foi, aliás, enunciado pelo Primeiro-ministro, primeiro empobrecemos e amanhã cantaremos. Mas não, assim não me parece que possamos cantar amanhã.
2 comentários:
Gostei da expressão "desconcertação social" porque é mesmo disso que se trata. Além de se cortar no salário e na dignidade das pessoas, vai-se por um caminho que só levará ao aumento da desmotivação. A mim parece-me que o grande problema do país, quer ao nível da administração pública, quer oa nível dos privados, está na falta de organização e planeamento. Um barco sem norte e sem comandante afundar-se-á, por melhores que sejam os seus tripulantes.
De acordo.
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