sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

A GEOGRAFIA DO DESPERDÍCIO E DA POBREZA

Existem notícias que por mais habituados que estejamos aos difíceis tempos que correm, conseguem ainda surpreender-nos ao mesmo tempo que se constituem como uma acusação que nos embaraça a todos. O Parlamento Europeu aprovou um relatório segundo o qual a União Europeia que tem 79 milhões de pessoas a viver abaixo do limiar de pobreza, 15,8% da população, e desperdiça anualmente cerca de metade do que consome em alimentos. Este desperdício corresponde a 89 mil milhões de toneladas, um número verdadeiramente assombroso. O Parlamento Europeu estabelece como objectivo para a Comissão reduzir em 50% o desperdício até 2025.
Relembro que 2010 foi o Ano Europeu de Combate à Pobreza e Exclusão e o resultado está à vista, 79 milhões de pobres, cerca de 2 milhões em Portugal. Parece-me também oportuno recordar que recentemente também a Comissão Europeia publicou um relatório mostrando como as medidas de austeridade em Portugal estão a agravar as assimetrias sociais e, de forma extraordinária, o Primeiro-ministro já avisou que o caminho é o empobrecimento.
Quando tanto se fala de produtividade, em nome da qual, se ameaça a dignidade das pessoas e se lhes piora as condições de vida talvez fosse altura de também nos centrarmos no desperdício e nos seus efeitos devastadores.
Neste quadro releva a necessidade urgente de ponderar os modelos de desenvolvimento económico e social, combater desperdícios consequência desses modelos, diminuir efectivamente o fosso intolerável entre os mais ricos e mas pobres, caminhar no sentido da construção de uma dimensão ética que seja reguladora da atribuição de privilégios incompreensíveis e obscenos para poucos e tolerância face a situações de exclusão extrema para bastantes outros.
Eu sei que escrever sobre estas questões em espaços desta natureza tem alcance zero, mas continuo convencido que é fundamental não deixar cair a preocupação, talvez seja melhor chamar-lhe a indignação, com a pobreza e exclusão. Por isso, a insistência.

1 comentário:

anónimo paz disse...

Em tempos do Estado não laico a iliteracia e ignorância do povo era trunfo da Igreja Católica Apostólica Romana para manter o povo num mistìcismo profundo e por vezes até ao anulamento da própria personalidade.
Povo letrado e erudito olha para os mistérios da vida, da natureza das coisas e suas condições de existência, de forma certa e racional.

Nos tempos actuais o grande capital fomenta e utiliza a pobreza das pessoas para melhor as explorar.

Porque povo sem fome é povo que reivindica da riqueza que produz.

Por mais estudos que façam sobre fome, pobreza e desperdício, não passa de manobras de diversão para pensarmos que estão muito interessados em acabar com a morte de muitos milhares de crianças (apenas falo nas crianças) por subnutrição.

Ficamos a dever um favor ao mendigo que nos aceita a esmola, pois aliviou-nos um pouco a consciência.


saudações