terça-feira, 10 de janeiro de 2012

JOGOS DE INFLUÊNCIAS, O ESSENCIAL E O ACESSÓRIO

A peça em exibição num quotidiano perto de si sobre a questão da pertença às associações secretas como as lojas maçónicas, estará longe de conhecer o seu final. Hoje temos duas contribuições interessantes, o ex-ministro Morais Sarmento reconhece ter sentido influências da maçonaria no processo de tomada decisão do PSD e, por outro lado, o grão-mestre do Grande Oriente Lusitano (GOL) - Maçonaria Portuguesa, Fernando Lima, vem defender que não deve existir nenhuma lei que obrigue alguém a declarar-se membro da maçonaria.
Entretanto, de vários quadrantes surgem vozes nos dois sentidos, os elementos da maçonaria devem, em nome da transparência declarar que o são, com ou sem lei que os obrigue, e, naturalmente, existe quem defenda que é uma questão de privacidade que não tem que estar legislada e exposta.
Do meu ponto de vista, discutira a questão nestes termos não tem muito sentido. Em qualquer país do mundo com modelos do tipo “democracia ocidental”, seja lá isso o que for, existe uma fortíssima cultura de influência das decisões de natureza política, económica, legal, cultural, etc., para que essas decisões possam ir ao encontro de diferentes interesses ou grupo de interesses. Nos EUA, como sabemos, a actividade de lobbying está institucionalizada e move e serve interesses poderosíssimos.
Assim sendo, a questão da resistência dos decisores às influências dos diferentes conjuntos de interesses não depende do conhecimento público de quem pertence a quê, mas dos processos de tomada de decisão, da sua transparência e fundamentação e da solidez ética de quem toma decisões em diferentes patamares e matérias de interesse público.
É neste campo que me parece necessário intervir, a divulgação pública de informação de interesse geral, a divulgação pública dos critérios das decisões para que se submetam ao escrutínio da cidadania informada, legislação eficaz e clara sobre tráfico de influências e corrupção, separação do trânsito de decisores políticos para a intervenção profissional no universo sobre o qual decidiram, etc., etc.
A discussão sobre a revelação pública da pertença, por exemplo, a lojas maçónicas é tomar o acessório pelo essencial pelo que, é minha convicção, interessa a muita gente manter a discussão nestes termos.

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