De há uns dias para cá e sobretudo hoje, começaram a chover referências à seca que estamos a atravessar e às eventuais consequências de tempos que se prevêem continuar secos.
É verdade, no meu Alentejo, os campos estão rasos de pasto e a gente começa a olhar para o céu à procura das nuvens que tragam a água que faz crescer. A coisa não está ainda especialmente grave porque os dois invernos passados foram chovidos, bem chovidos, e as barragens ainda se aguentam.
No entanto, a seca severa que atravessamos e o risco de seca extrema que poderemos enfrentar não é só de natureza meteorológica. Estamos em seca severa em várias outras dimensões que nos respeitam, ou desrespeitam, conforme a leitura.
Seca-se a esperança e a confiança em dias melhores medrando neste terreno a desesperança.
Seca-se a possibilidade de um emprego que garanta o sustento e a dignidade de um projecto de vida, sobretudo entre os mais novos.
Seca-se a possibilidade de um fim de vida tranquilo para milhares de pessoas que depois de uma vida encharcada em sacrifícios se debatem com uma velhice que continua assim mesmo e, portanto, seca de bem-estar.
Seca-se a ideia de que as políticas são ferramentas de promoção da qualidade de vida, do bem-estar e não um conjunto de modelos e procedimentos de promoção de exclusão e pobreza, garantindo os dividendos de um deus mercado dominado por meia dúzia que não abdica de privilégios obscenos.
Seca-se a fonte da ética e da moral, principais reguladores de comunidades desenvolvidas.
É, na verdade, estamos em tempo de seca severa.
Vou espreitar o céu com a esperança de ver as nuvens que irão chegar com a água que lava e faz crescer, a terra e a gente.