Segundo dados de um estudo da Comissão Europeia hoje divulgado, 57 % dos jovens portugueses estão disponíveis para trabalhar noutro país da União.
Uma leitura optimista destes indicadores permitirá inferir que os jovens se encontram sensíveis e motivados para experiências de desenvolvimento pessoal e conhecimento de outras realidades numa perspectiva de alargamento de experiências e globalização, sem dúvida positivas.
No entanto, esta disponibilidade para partir pode espelhar o que se pode designar por uma outra dimensão da crise. É sabido que os jovens, muitos com qualificação académica, constituem um grupo particularmente afectado pelo desemprego e precariedade. Parece-me ainda pertinente considerar que, dados de 2008, em Portugal, 47,6% dos homens entre os 25 e os 34 anos e 34,9% das mulheres na mesma faixa etária vivem ainda em casa dos pais. Estes valores são dos mais altos encontrados na União Europeia.
Este cenário, por vezes despercebido, evidencia, como referi acima, uma outra dimensão da crise, bastante menos considerada. De facto, já perto de metade dos jovens em idade de autonomizar o seu projecto de vida, quer em termos profissionais, quer em termos pessoais, vê-se obrigada a permanecer na casa familiar na maioria dos casos por dificuldade na entrada no mercado de trabalho ou, tendo-o conseguido, tal acontece numa situação precária. Tal quadro implica, obviamente, uma quase ausência de estabilidade e meios para, por exemplo, suportar custos com habitação e construir projectos de vida e de realização pessoal.
Como dado colateral mas de fortíssima importância, este cenário repercute-se seriamente na demografia pois o prolongamento da permanência junto da família tende a atrasar ou a inibir os projectos de maternidade e paternidade contribuindo assim para o preocupante inverno demográfico que atravessamos.
Finalmente, uma nota para uma outra dimensão envolvida com impacto significativo mas de difícil contabilização, a confiança. Boa parte destes jovens terá feito um investimento, maior ou menor, numa perspectiva de futuro e num projecto de vida. Quando atingem a idade de o desenhar percebem como esse futuro de autonomia parece inacessível o que provavelmente conduzirá a uma percepção de desconfiança face ao futuro e à capacidade de o influenciar. Daí à desistência é um passo, pequenino e perigoso.
Talvez tudo isto ajude a compreender como mais de metade dos jovens portugueses inquiridos revelem disponibilidade para partir. A história repete-se.
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