Quando se assiste ou se comentam alguns comportamentos dos miúdos, sobretudo quando se trata de birras ou a imposição de desejos ou vontades aos adultos, quase sempre os pais, que com maior ou menor constrangimento acabam por satisfazer, surge com muita frequência a explicação “é dos mimos” ou outra da mesma natureza. Neste tipo de diálogos, “mimos” é entendido quase como sinónimo de “afecto”, “amor”, “gostar”, etc.
Tal justificação costuma depois servir para se afirmar a ideia de que as crianças hoje em dia têm muitos mimos que as estragam, dito de outra maneira, têm “afecto” a mais ou ainda “gosta-se de mais” das crianças.
Acho sempre muito curiosos estes discursos pois assentam, do meu ponto de vista, num enorme equívoco.
As crianças, de uma forma geral, não terão afecto a mais, pode existir “afecto a mais” mas se for excessivo é mau afecto. Não é mau por ser muito, é mau porque asfixia, oprime, não deixa que os miúdos cresçam. Mas não é este o tipo de situações que leva as pessoas a falar dos mimos a mais.
Insisto, as crianças não têm mimos a mais, têm nãos de menos, os adultos sendo quase sempre capazes de dar os mimos, muitas vezes mostram-se incapazes de dar os nãos, de estabelecer os limites e as regras que, como sempre digo, são tão necessárias às crianças como respirar e alimentar-se. Esta dificuldade dos adultos em oferecer os nãos aos miúdos, decorre muitas vezes de alguma desconforto culpabilizante sentido com as circunstâncias e estilos de vida que inibem o tempo e a disponibilidade que desejariam ter para os filhos. Ficando sem nãos, muitas crianças, a coberto do afecto dos pais, transformam-se em pequenos ditadores que infernizam a vida de toda a gente, a começar por si próprios.
Mas não têm mimos, afecto, a mais. Têm, repito, nãos a menos.
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