Era uma vez um Homem que vivia do avesso, diziam as pessoas. Tudo começou cedo. Em pequeno o Homem chorava e fazia birras e os pais exclamavam “é mesmo ao avesso, não se cala com nada”. Ao entrar na escola, a situação manteve-se pois o Homem tinha tendência para fazer ao contrário do que lhe pediam, falava quando era para estar calado, imaginava quando era para copiar, protestava com facilidade e ria-se quando devia estar sério. Os professores sempre acharam que tinham um aluno do avesso. Quando acabou de crescer do avesso continuava, diziam. Arranjou um emprego esquisito, ganhando pouco, mas também trabalhando pouco, para ter tempo para ler. Ainda protestava, quando o tempo era de estar calado. Aliás, passava o tempo a dizer que as pessoas se calavam a tudo o que lhes acontecia. Nunca teve um carro e passava as curtas férias num banco de jardim onde continuava os seus protestos. Toda a gente achava que o Homem continuava do avesso.
Um dia, cansado, resolveu calar-se definitivamente, não falar com ninguém. Ninguém mais lhe ouviu uma palavra. As pessoas afirmavam, “agora é um tipo às direitas” e o Homem continuou infeliz para sempre.
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