Numa pequena pastelaria de bairro ao final da tarde, tempo para o chá e a torrada, estavam uma ou duas pessoas ao balcão e apenas uma mesa livre encostada à do escrevinhador que olhava para o caderno das notas e para o vapor do chá à procura de inspiração que parecia cinzenta como a tarde, chuva e trovoada, as trovoadas de Maio que chegam antecipadas.
Entra na pastelaria uma mãe jovem com uma miúda pela mão. A gaiata, não mais do que uns seis anos, trazia cara de fim de dia, provavelmente devido às Actividades de Extensão Curricular coisa que muitas vezes deixa os miúdos assim um bocado para o exaustos. Além disso, é sexta-feira.
A mãe jovem começa um diálogo com a miúda que, dada a proximidade de mesas, não podia deixar de ser ouvido pelo escrevinhador. O diálogo é sobre o lanche e depois de alguma animação sai a primeira versão, foi pedido um “pão com chicha” e um refrigerante com dois copos. Um minuto depois a miúda grita que não quer pão com “chicha”, fiambre deu para perceber pela conversa, e surge a segunda versão, um pão com queijo e outro refrigerante.
Dada a rápida evolução nas decisões dos miúdos, esta versão foi também reformulada aos gritos, já com alguma exasperação da mãe jovem, com a miúda também a chorar e a bater na mesa, exigindo um bolo, a terceira e definitiva versão. A mãe jovem ainda tentou contrariar a ideia do bolo, conseguindo com isso aumentar os decibéis produzidos pela miúda bem como a sua agitação.
Quando o lanche chegou à mesa, a mãe jovem ainda comentou para a miúda como era teimosa. Esta, mais calma e com o bolo na mão respondeu “eu é que mando”. E o lanche decorreu sem mais turbulência.
O escrevinhador pensou que se esta mãe jovem em vez de pedir um bolo para a filha lhe tivesse oferecido um NÃO, mesmo sem refrigerante, a vida das duas iria ser bastante mais tranquila. O escrevinhador pensou ainda que esta cena daria uma pequena história.
Aqui está.
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