No DN de hoje aborda-se a meritória acção dos Gabinetes de Apoio ao Aluno e à Família que existem em muitas escolas sublinhando-se resultados e dificuldades no trabalho com crianças, adolescentes, professores e famílias. Estes gabinetes, a funcionar no âmbito de um programa do Instituto de Apoio à Criança, dedicam ainda a sua atenção às mais diversas situações e dimensões da vida de crianças e adolescentes. De uma forma geral, os técnicos dos GAAFs têm desenvolvido um bom trabalho embora, do meu ponto de vista, passado um eventual período experimental, todo este trabalho devesse ser desenvolvido por técnicos integrados nas escolas e não com a habitual dispersão que se verifica em Portugal.
Na verdade, esta intervenção é de uma necessidade. Os tempos estão difíceis e crispados para os adultos, seguramente para boa parte dos adultos, e para os miúdos a estrada também não está fácil de percorrer. Alguns vivem, sobrevivem, em ambientes familiares disfuncionais que comprometem o aconchego do porto de abrigo, afinal o que se espera de uma família. Alguns percebem, sentem, que o mundo deles não parece deste reino, o mundo deles é um bairro insustentável que, conforme as circunstâncias, é o inferno onde vivem ou o paraíso onde se acolhem e se sentem protegidos. Alguns sentem que o amanhã está longe de mais e um projecto para a vida é apenas mantê-la. Alguns convencem-se que a escola não está feita para que nela caibam. Alguns sentem que podem fazer o que quiserem porque não têm nada a perder e muito menos acreditam no que têm a ganhar.
Alguns destes miúdos vão carregar para a escola a dor de alma que sentem mas não entendem, por vezes.
Não, não tenho nenhuma visão idealizada dos miúdos, nem acho que tudo lhes deve ser permitido ou desculpado e também sei que alguns fazem coisas inaceitáveis e, portanto, não toleráveis. Só estou a dizer que muitas vezes a alma dói tanto que a cabeça e o corpo se perdem e fogem para a frente atrás do nada que se esconde na adrenalina dos limites.
Espreitem a alma dos miúdos, sem medo, com vontade de perceber porque lhes dói e surpreender-se-ão com a fragilidade e vulnerabilidade de alguns que se mascaram de heróis para uns ou bandidos para outros, procurando todos os dias enganar a dor da alma.
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