O trambolhão é um termo que me parece estar a cair em desuso e, mais do que isso, o próprio trambolhão está também a perder o uso. Sim, parece uma conversa estranha, mas para os mais assíduos não será mais estranha que outras que por aqui têm passado. Mas que eu tento explicar.
O trambolhão é uma das mais potentes e eficazes ferramentas de desenvolvimento que os miúdos têm ao seu dispor.
Se bem repararem, quando damos os primeiros passos, são os trambolhões que nos ensinam a melhorar o desempenho, situação que se repete, lembram-se quando passamos à bicicleta ou, os mais aventureiros e afoitos, a uma qualquer manobra num aparelho de um parque infantil ou, na experiência de vida dos mais velhos, no empoleiranço em alguma árvore.
Em todas as experiências de aprendizagem, os trambolhões são fundamentais, como dizia Paulo Vanzolini na famosa canção imortalizada por Bethânia, "levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima" e assim também aprendemos.
Acontece que hoje em dia, devido uma excessivamente defensiva, ainda que compreensível, forma de olhar para os miúdos em muitos aspectos das suas vidas, cada vez menos os miúdos dão trambolhões, não brincam, não correm os riscos do brincar, do desafio de experimentar. As aprendizagens não são feitas assim, são feitas sempre em ambientes protegidos e assépticos, chamam-se espaços lúdicos e as brincadeiras já não são brincadeiras, são actividades lúdicas.
Há muito tempo que não vejo um miúdo com os "joelhos deitados abaixo" fruto de um trambolhão que o ajuda acrescer.
No entanto, o problema mais sério, é se os miúdos, muitos miúdos, já não dão os trambolhões que os fazem crescer, a vida de muitos miúdos, essa sim, é aos trambolhões.
Andamos a fazer muita coisa errada.
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