domingo, 4 de janeiro de 2009

GALINHA DO CAMPO NÃO QUER CAPOEIRA

Durante este sábado, a chuva que caiu no meu Alentejo obrigava a interromper a lida o que teve a vantagem de proporcionar algum tempo para uma lérias, a mim e ao mestre Zé Marrafa.
O mestre Zé estava a contar que tinha ido passar a tarde do dia primeiro a Évora, a casa da filha. Gosta da família mas uma tarde em Évora é demais. Como ele diz, “é bem verdade, galinha do campo não quer capoeira”. Ele não se imagina a viver assim numa terra grande, aqui na vila, vem ao monte, tem sempre alguma coisa que fazer, sobretudo plantar alguma coisa na horta que é o que mais gosta. Achei muita graça à descrição do mestre Marrafa sobre o seu incómodo com a cidade grande, “sei lá, o corpo não se encontra”, “parece que estou perdido”, “parece assim uma prisão” e outras considerações que não fixei. Conhecendo o mestre Marrafa, dá para entender este discurso. Os olhos pequeninos brilham quando fala do que vai fazer, dos criadores, das enxertias, dos bogangos, dos frades, da necessidade de fabricar a terra para o “çabolo” de que eu tenho que comprar a semente, dos rábanos enormes que lá temos, e das “alfaças”, das couves que apesar de dividirmos as folhas com as codornizes sabem bem mas bem, da desmoita dos pés-de-burro das oliveiras e da sua limpeza que nos garante lenha para o inverno, etc.
Ás vezes, penso como sou um privilegiado com um campo, o meu Alentejo, para ir quando saio da cidade grande. Pena é que muita gente, sobretudo putos, já não saiba o que é “o campo”, e, por isso, não podem, por vezes não querem e outras vezes não sabem, sair da capoeira.

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